Saltburn faz suspense e romance picantes com um brilhante Barry Keoghan

Saltburn faz suspense e romance picantes com um brilhante Barry Keoghan

Segundo filme de Emerald Fennell acerta no estilo e derrapa no discurso

Thiago Romariz
24 de dezembro de 2023 - 2 min leitura
Crítica

O sarcasmo e a ironia afiados de Bela Vingança, combinados com uma atuação impecável de Carey Mulligan, colocaram Emerald Fennell justamente nos holofotes de Hollywood. Em termos, a segunda empreitada da artista como diretora traz elementos parecidos, mas com execução distante da estreia. Saltburn usa a pompa do mesmo estilo de humor para falar sobre a superficialidade da aristocracia britânica. A questão é que se não fosse pelo magnetismo de Barry Keoghan, o jovem pobre e brilhante que se mete no meio dos ricos, a narrativa dificilmente passaria de um clichê estiloso com discurso superficial sobre privilégios e desejos adolescentes em adultos que se negam a crescer.

Na história, o recatado Oliver, após uma tragédia familiar, se muda para a mansão Saltburn, moradia dos Catton, sujeitos riquíssimos que têm o casal de filhos estudando com ele em Oxford. O jovem acaba encantando pela beleza de Felix (Jacob Elordi), o jovem prodígio da família, e aos poucos explora as entranhas da propriedade como se estivesse entrando na mente e no legado de seus anfitriões. O que começa como um romance platônico se destrincha para uma trama com reviravoltas e revelações que alteram o rumo de todos os visitantes de Saltburn.

Fennell inicia o filme com um close nos olhos de Keoghan, mostrando como, pelo mistério daquele olhar, todas as ações dos personagens serão ditadas. O protagonista não só consegue transmitir tão dubiedade, que transita do garoto pobre e inocente a um alpinista social meticuloso e maquiavélico, como rouba qualquer possibilidade de destaque de seus coadjuvantes. E isso acontece para o bem do longa, já que a empáfia dos aristocratas explorada pelo roteiro não consegue se desenvolver o suficiente, especialmente pelo fato do roteiro se negar a sair da ironia barata da mente limitada da família privilegiada. Enquanto em Bela Vingança a cineasta mostrava como a superficialidade era a arma principal de castas dominantes, aqui a proposta é tê-la como uma característica quase inofensiva - vide o papel de anti-herói que Oliver atinge aos poucos na narrativa, da mudança de postura, roupa até os atos finais.

Enquanto se propõe a ser um romance difuso, sem foco no amor ou em pessoas, mas na busca do entendimento da atração, Saltburn funciona em plenitude. E muito se deve ao fato de Keoghan e Elordi incorporarem de forma impecável tal ideia - o cinismo de Oliver, a inocência deliberada de Felix. A fotografia de Linus Sandgren, dos belíssimos Babilônia e 007: Sem Tempo Para Morrer, enaltece ainda mais a composição desse quadro com uma mistura incrível do campo de Saltburn com a estética quase renascentista das entranhas da mansão. É como se, dentro daqueles corredores, uma mistura de eras e pessoas emanasse nos personagens, nas falas (o aspecto poético e clássico de Oliver, e as gírias de Farleigh, nas roupas e até nas músicas escolhidas, que vão do clássico ao pop sem cerimônia.

Não é como se Saltburn fosse um filme cheio de intenções e pouca entrega. Os vários gêneros envolvidos no roteiro se encontram bem, há sim a sensualidade proposta e o mistério chega a incitar dúvidas ao longo da história. A questão maior talvez é que, apesar de um elenco comprometido com as ideias e quase encarnados em seus personagens, os outros elementos se tornam uma espécie de colagem de temas mais do que um estudo de caráter das classes expostas pela trama.

Nota da Crítica
EstrelasEstrelasEstrelasEstrelasEstrelas
Thiago Romariz

Saltburn

Comédia
Drama
0h 0min | 2023
saltburnprime-videobarry-keoghanjacob-elordi

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