O primeiro Resgate foi uma surpresa. Ainda que tivesse os nomes de Irmãos Russo e Chris Hemsworth, vindos da Marvel, o filme de ação da Netflix entregou uma qualidade muito além de super produções do serviço de streaming como Alerta Vermelho, Underground 6, Agente Oculto e outros. A direção frenética de Sam Hargrave, conhecido também como coordenador de dublês da Marvel, combinou bem com o carisma monossilábico do agressivo e matemático Tyler Rake de Hemsworth. Eis que a sequência chega e, tal qual todo sucesso em Hollywood, ela fica maior, mais longa, mais cara e mais agressiva. A boa notícia é que, mesmo que seja mais irregular que o primeiro, Resgate 2 mantém o saldo positivo e fixa o nome do longa como uma boa franquia no entretenimento atual.

Como qualquer herói imortal do exército americano do cinema dos anos 1980, Rake sobrevive ao impossível atentado final do primeiro filme e agora segue em uma nova missão: resgatar a sua ex-cunhada de uma prisão de segurança máxima na Geórgia, habitada por duas facções criminosas rivais. A partir daí, se testemunha um repeteco grandiloquente da primeira aventura, uma ode a agilidade e força bruta de um ex-militar, pincelado com algum humor momentâneo, mas principalmente com o drama pessoal do protagonista, que segue perseguido pela perda do filho.

Hargraves e Joe Russo, responsável pelo roteiro, optaram por aprofundar mais os traumas de Rake, o que acaba alongando o filme mais do que o necessário, mas traz conexões diferentes do primeiro filme - Rake vê o próprio filho em Sandro e a si mesmo no vilão. É louvável que o filme gaste seus primeiros minutos não só na recuperação do herói, mas na construção dos coadjuvantes, tornando assim o envolvimento do terceiro ato maior e menos descartável do que poderia ser. E por mais superficial e clichê que seja a dinâmica entre absolutamente todos os personagens, a entrega do elenco é suficiente para se conectar com todas as perdas e feitos.

O maior trunfo de Resgate, porém, é sua ação bruta e coordenada, tal qual uma grande cutscene de videogame - tão parecida que em momentos, devido a certos áudios em off e passagens de câmera, lembra demais séries como Uncharted ou Call of Duty. A primeira sequência, que dura belos e longos 35 minutos, é tão encantadora e magnética que nada no filme consegue superá-la depois disso. Hargraves mistura perseguição, luta corpo a corpo, um trem, combate aéreo, mortes, dramas e até um desastre natural no meio de tudo. Diferente de personagens como John Wick, que sofre e leva a audiência junto num balé de cores e sons, Resgate 2 escolhe a brutalidade, a paleta cinza, trilha simples e a invencibilidade quase mutante de Rake.

A escala da ação, mas principalmente o estilo apresentado dentro deste gênero, tornam essa uma das franquias mais interessantes da Netflix - e fica ainda mais complicado entender porquê um filme deste tamanho só existe no streaming, afinal, numa sala de cinema o impacto da aventura seria ainda melhor do que em casa. Mesmo que seja minado por essa escolha e pela obrigatoriedade de Hollywood em tornar tudo maior, Resgate 2 entrega uma experiência tão boa quanto a primeira.

3,5/5