Zack Snyder esquece da história e acha que acerta na estética em Rebel Moon – Parte 2

Zack Snyder esquece da história e acha que acerta na estética em Rebel Moon – Parte 2

Segunda parte da franquia estreou nesta sexta-feira, dia 19, na Netflix

Alexandre Almeida
19 de abril de 2024 - 6 min leitura
Crítica

Em um determinado momento de Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes vemos um quarteto de cordas tocando. Eles vestem roupas apropriadas para a situação, uma recepção para a realeza, mas usam sacos de pano, com um olho bordado, cobrindo a cabeça. Esteticamente pode parecer interessante, mas elementos como esse mostram o grande problema dessa nova franquia de Zack Snyder: a estética na frente da narrativa. Ou pelo menos a estética que ele acha boa.

Não é pecado nenhum que a estética de um filme de ação salte aos nossos olhos em tramas mais simples. John Wické o grande exemplo da atualidade. Mad Max: Estrada da Fúria é uma aula de como contar a história a partir da ação e deixar o espectador babando pelas imagens. O mestre John Woo nunca se privou do slow-motion (e das pombas) e mesmo assim entregou pérolas como Fervura Máxima, por exemplo.

Mas parece que Zack Snyder esqueceu completamente de juntar os dois elementos com as partes 1 e 2 de Rebel Moon, seus piores filmes.

O mesmo Zack Snyder que conduziu a matança desenfreada e estilizada em 300, não consegue entregar um momento digno de comparação em sua batalha campal na lua Veldt. O mesmo vale para a sensação de perigo e tensão dos rebeldes cercados. O que parecia uma grande invasão, em tela se resume a um punhado de soldados apenas. Quem lembra da saída do shopping em Madrugada dos Mortos, sabe o que o diretor conseguiu fazer ali num cerco realmente perigoso.

Sem falar no robô Jimmy (ou James, já que ele tem nome e apelido), interpretado por Anthony Hopkins. Snyder cozinha o grande robô-militar-guerreiro por quase quatro horas se juntarmos os dois filmes, para no final ele nunca chegar perto de uma cena como as do Rorschach ou qualquer uma de O Homem de Aço.

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Se emA Menina do Fogo, Zack Snyder quis contar uma história guiada pela violência, sem nunca fazer valer o real perigo, em A Marcadora de Cicatrizes ele quer fazer a sua versão de Os Sete Samurais. Só que ele erra no primordial: Por que devemos nos importar com aquele povo ou com quem os defende? A péssima construção do grupo na primeira parte continua aqui, com uma sequência interminável de flashbacks, todos em câmera lenta, e que não influenciam em nada a visão do espectador. O que muda de um filme para o outro nós sabermos o destino da família de Tarak (Staz Nair)? Ou ver a Nêmesis (Bae Doona) encontrando suas espadas? O que a sabíamos sobre o General Titus (Djimon Hounsou) muda depois da cena no passado dele? Nada vezes nada.

Para completar, A Marcadora de Cicatrizes tem a pior protagonista e o pior vilão da carreira do diretor. Kora não tem carisma, seu envolvimento com a princesa Issa é fraco e as decisões que toma em relação a ela são sem pé e nem cabeça. Os momentos que Sofia Boutella consegue brilhar mesmo, são as cenas de luta e ação, como a de espadas no final durante a queda da nave. Mas isso é pouco. Já vimos a atriz fazer muito melhor em Kingsman ou Star Trek: Sem Fronteiras. Já o Noble de Ed Skrein é a mesma coisa do primeiro filme. Um histérico de uniforme, que varia sua força de acordo com a vontade do diretor para cada cena.

Mas nem tudo é pedra na vidraça de Snyder. Depois da longa preparação para a batalha final, ela ainda diverte. A vontade de “homenagear” Kurosawa ajuda Rebel Moon – Parte 2 no que foi o pior elemento do primeiro filme. O filme é mais simplificado e focado, no grupo e na aldeia. Isso traz uma dinâmica mais fluida para a história, por mais que os flashbacks constantes tentem atrapalhar. É mais focado na “guerra”. A ação, por mais que não seja inspirada, é bem feita. E o carisma que falta nos atores principais, pelo menos sobra em Djimon Hounsou e no bonitão esforçado Staz Nair.

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“Ah, mas calma aí, na versão que ele vai lançar...” Ninguém aguenta mais essa desculpa para os filmes de Zack Snyder. Esse papinho para tapar buraco já passou e ficou lá com o finado DCEU. Logo depois das críticas negativas de Rebel Moon – Parte 1, o diretor correu para dizer que sua versão é totalmente diferente e parece até de outro universo. É desrespeitoso com o fã que sempre acolheu o trabalho dele. Um grande selo de trouxa na testa de cada um.

Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes, pelo menos, por enquanto, parece uma obra mais justa, melhor que o anterior e que pode até interessar em alguns momentos. Agora só falta saber qual será a desculpa esfarrapada que vão arranjar para defender os muitos problemas do filme.


Nota da Crítica
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Alexandre Almeida
DISPONÍVEL EM

Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes

Ação
Aventura
Ficção científica
2h 2min | 2024
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