
Quem Fizer Ganha | História incrível não salva filme de Taika Waititi da mesmice
Longa foi exibido no Festival de Toronto 2023

Crítica
Uma boa história não necessariamente garante um bom filme. Esse não é exatamente o caso, mas dá pra aplicar tal lógica em Quem Fizer Ganha, novo filme do diretor Taika Waititi, responsável também por Thor: Ragnarok, Thor: Amor e Trovão eJojo Rabbit. Uma das principais estreias do Festival de Toronto 2023, o longa tem a clássica história de superação de atletas renegados frente a adversidades, conta com uma série de cenas emblemáticas de empolgação e empatia, mas falha na construção das conexões entre personagens ao repetir fórmulas sem encontrar algo que o diferencie de dezenas de outros filmes semelhantes.
O roteiro, escrito por Waititi e Iain Morris, narra a jornada do time de futebol da Samoa Americana, nação que levou a maior goleada da história das Eliminatórias da Copa do Mundo, 31 x 0 para a Austrália. Com a ajuda do polêmico e também renegado técnico americano Thomas Rongen, vivido por Michael Fassbender, os desajeitados jogadores da pacata ilha começam a entender mais do esporte, enquanto o comandante começa a entender mais da vida - e nisso, os dois lados buscam chegar ao objetivo final: marcar um gol, algo que nunca aconteceu na história do time.
É o modelo de narrativa já visto em Jamaica Abaixo de Zero ou mais recentemente em Ted Lasso, só que agora com toques do humor peculiar de Taika, que faz piadas com fenômenos pop como Busca Implacável, Um Domingo Qualquer e até o próprio Ted Lasso. O diferencial de Quem Fizer Ganha deveria estar no protagonista de Jaiyha Saelua, primeira atleta transgênero a entrar em campo em uma competição oficial, e aqui é vivida por Kaimana. É inegável a força da jornada dela, ainda que o roteiro tropece para criar uma conexão legítima entre treinador e atleta - e não só com ela, mas todos os outros.
À parte o êxtase dos feitos do time no terceiro ato e uma piada aqui e acolá, Taika não consegue desenvolver a liga necessária para de fato tornar a história de Quem Fizer em algo memorável. Entre as dezenas de piadas propositalmente constrangedoras, salvam as proferidas pelo presidente samoano Oscar Kightley, personagem responsável por transmitir a doçura e inocência do povo daquela ilha. Por mais que seja impossível não se sentir tocado com o enredo, tanto o talento de Waititi quanto a força da própria história mereciam um desenvolvimento à altura do que poderiam entregar, e não uma repetição de tantos outros filmes de esporte comuns - especialmente em uma época em que Ted Lasso existe e comprovou que clichês deste tipo podem sempre surpreender.

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