A Queda da Casa de Usher é terror da Netflix sem a eficiência de Residêncial Hill e Missa da Meia-Noite

A Queda da Casa de Usher é terror da Netflix sem a eficiência de Residêncial Hill e Missa da Meia-Noite

Com ótimo elenco comandado por Mike Flanagan, série usa Edgar Allan Poe numa mistura de Succession com American Horror Story

Thiago Romariz
17 de outubro de 2023 - 2 min leitura
Crítica

Todos os projetos de Mike Flanagan na Netflix usam o drama familiar como pilar principal da trama, mas reveste toda a narrativa com toques de terror que o tornaram um dos escritores e diretores mais conhecidos do streaming atual. Residência Hill, Mansão Bly, Clube da Meia-Noite e Missa da Meia-Noite são os produtos atuais e que, entre altos e baixos, fizeram a marca de Flanagan ser reconhecida. Em A Queda da Casa de Usher, o criador se inspirou nos contos de Edgar Allan Poe para replicar o mesmo modelo de antes, só que agora com um foco ainda maior no drama familiar e menos no horror. O resultado é o texto mais literal da carreira de Flanagan na Netflix, com um desenvolvimento arrastado e que, apesar do excelente elenco e temas interessantes, não encontra o equilíbrio das produções anteriores.

A história sobre os Usher, bilionários da indústria farmacêutica norte-americana, se passa durante algumas décadas e se inicia com o velório de todos os filhos de Rodrick, o magnata líder do clã. A partir daí, acompanhamos ele contar sua trajetória de vida para o advogado Augie, seu desafeto. Numa mescla de fantasia obscura com demônios, aparições repentinas e gatos pretos, Flanagan usa a família para falar de pecados capitais com temáticas e referências tão contemporâneas que soam datadas ao fim de cada episódio - não faltam críticas à inteligência artificial, opióides, capitalismo, concentração de renda e luxo exagerado. Zero problema com as críticas, falho porém é a forma que Flanagan as faz, deixando os personagens se tornarem simples fantoches de um argumento raso sobre os desejos e defeitos humanos.

Em outras oportunidades, as séries dele falavam sobre dilemas familiares, o peso de um legado e/ou traumas causados pelo passado - e faziam isso com poucos diálogos, num uso impecável do horror para materializar todas essas questões, foi o caso de Residência Hill. Missa da Meia-Noite replicou o formato com bons debates sobre fé e nunca esqueceu da fantasia ou da parcimônia nos textos sobre fé. Essa sutileza com que lidava com discussões e a elegância com que usava o terror para explicá-las não está presente em Casa Usher, que tem seus melhores momentos devido ao ótimo elenco capaz de superar até os momentos mais medíocres do roteiro - até aqueles que suplicam para o espectador desistir da série, como quando fala sobre robôs de IA ou falar mal da própria Netflix. Flanagan é muito melhor que isso.


O horror está, sim, presente em Casa Usher, mas é o mais tímido possível. E se tenta em alguns momentos ser mais sobre atmosfera e transformar a ganância em suspense, a série não consegue atingir qualquer sensação de terror ou envolvimento necessário para assustar ou emocionar, que seja. Flanagan consegue ao fim dos oito episódios dizer a que veio, relembra seus melhores trabalhos na reta final do seriado, mas tem aqui um dos menos impactantes projetos dentro do gênero que domina. Numa tentativa de atualizar os contos de Edgar Allan Poe para um contexto moderno, a Netflix parece ter feito uma mistura de Succession e American Horror Story sem a força de ambos, mas mais importante, sem a essência das melhores criações de Flanagan.

Nota da Crítica
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Thiago Romariz
ONDE ASSISTIR

A Queda da Casa de Usher

Crime
Drama
Terror
1h 0min | 2023
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