On the Rocks - Crítica do Chippu

On the Rocks - Crítica do Chippu

Novo filme de Sofia Coppola com Rashida Jones e Bill Murray está na Apple TV+

Guilherme Jacobs
23 de outubro de 2020 - 5 min leitura
Crítica

Sofia Coppola é uma das poucas pessoas capazes de capturar algo efêmero em filmes. Um sentimento ou sensação tão específico que explicar com palavras raramente é suficiente - talvez seja por isso que os projetos dela não são lotados de diálogos? Seja a mistura de obsessão, mistério e medo que meninos sentem por meninas na adolescência (As Virgens Suicidas) ou as conexões românticas e tristes que só acontecem em viagens (Encontros e Desencontros), tudo isso parece ser tirado de letra pela diretora e roteirista.

Como consequência, seus filmes normalmente tem um aspecto quase indescritível de serem algo afiado, ousado e cool. Com seu novo projeto, On the Rocks, que estreou na sexta-feira (23) no Apple TV+, a diretora tomou outra direção. Pela primeira vez em sua carreira, fez algo que parece não apresentar as suas marcas registradas (tirando, é claro, Bill Murray), mas um filme que não teria o mesmo significado caso tivesse sido feito por qualquer outra pessoa no mundo. É uma experiência, que, creio eu, será profundamente diferente para quem já está familiarizado com a filmografia de Coppola do que para quem está usando On the Rocks como porta de entrada.

A história acompanha uma autora de sucesso em Nova York chamada Laura (Rashida Jones) que vê os 40 anos se aproximando e começa a suspeitar que seu marido, Dean (Marlon Wayans) não está sendo fiel. Tanto Laura quanto o filme parecem extremamente travados após a introdução, que mostra a noite do casamento dos dois e contém o quê especial dos filmes de Sofia Coppola. É uma escolha intencional e interessante, ao contrastar o estilo da memória que abre a história com o tédio da vida doméstica com duas filhas, ela coloca lado a lado o que você espera de algo com o nome da diretora com o que On the Rocks realmente será. Os enquadramentos são mais simples, a presença de música mais suave.

Isso muda, entretanto, com a chegada do pai de Laura, Felix (Bill Murray), um vendedor de arte rico e que sabe uma coisa ou outra sobre ser infiel no casamento. Murray explode cada cena em que está, trazendo um ar de leveza e de Coppola ao filme e à atuação de Rashida Jones, que é boa sozinha, mas atinge outro nível ao acompanhar o ator veterano. Felix ajuda Laura a reencontrar um certo nível de diversão, mas rapidamente fica claro que sua visão de mundo e comportamento podem ser mais prejudiciais do que benéficos para a filha.

Tudo isso, entretanto, não impede que Murray seja a melhor parte do filme. Em uma cena onde ele é parado por dirigir rápido demais, você pode ver o ator flexionando seus músculos de comédia e charme e tomando conta da tela inteira. Jones o acompanha, e seu arco é o mais interessante e importante do roteiro, mas é difícil não querer acompanhar mais de Felix.

Ao dos 95 minutos de duração, On the Rocks parece ter sido um experimento para a diretora, filha de Francis Ford Coppola (O Poderoso Chefão, Apocalypse Now), onde ela quis refletir sobre a influência de uma figura paterna, as fases duras do casamento e da família e como isso afeta sua arte - Laura está passando por um momento de bloqueio criativo. Assim como outros títulos de Sofia, sua capacidade de capturar algo muito específico está aqui novamente - o que é bom no sentido de ter essa perspectiva única mas que pode distanciar os personagens da realidade que a maioria das pessoas enfrenta - mas com outra pegada de direção, muito menos chamativa em suas escolhas músicas (o que eu apreciei, porque elas são de extremo bom gosto) ou no posicionamento da câmera e construção de cenas (com exceção da já mencionada cena de Murray dirigindo).

Pra mim, o resultado final foi muito bom. É o tipo de filme que mostra o crescimento de uma cineasta, a mudança nos seus interesses ou pelo menos na forma como ela os aborda. Eu não diria que On the Rocks é um sucesso tremendo, e ele certamente não está no panteão de Sofia Coppola. Mas ainda sim é um privilégio acompanhá-la em uma nova história, especialmente se reunindo com Bill Murray.

Nota: 3.5/5

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

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