
O Dublê é divertida comédia sobre antigas fantasias do cinema
Ryan Gosling brilha em aventura que lembra clássicos de outra época de Hollywood

Crítica
Em uma era onde os filmes de herói saem do seu apogeu e começam a enfrentar uma crise de identidade e resultados, é natural que Hollywood procure dentro dos próprios corredores histórias que possam trazer mais otimismo. E como não podia ser diferente, as opções ficam entre reviver franquias, ou como em O Dublê, contar casos próprios.
Estes acendem uma chama de auto importância para a indústria, renovando as esperanças para tempos melhores. A nova comédia de ação do diretor David Leitch é uma mescla destas duas receitas; uma prova de como o cinema americano busca reafirmação nas tramas mais simples e escapistas.
Baseado na série clássica Duro na Queda, o longa mostra o dublê de um astro de Hollywood se envolvendo numa trama com assassinos, polícia e uma dose de mistério em paralelo à crise no seu relacionamento com uma diretora de cinema. Ryan Gosling vive Colt, o protagonista, e comanda cada segmento dessa amálgama do roteiro, que divide bem o tempo de tela entre a comédia do casal, as cenas de ação mirabolantes e os comentários perspicazes sobre o atual momento do cinema — não podia ser diferente, pois cada vez mais vemos computadores substituindo humanos seja na escrita, na criação ou mesmo no trabalho de dublês, com efeitos visuais.
A forma como se discute esse tema é o grande acerto de O Dublê. Não há o peso do dever, da obrigação em debater um grande questionamento. A proposta é mostrar, em tela, quão importante é ter pessoas que sintam, vivam e se orgulhem da arte que fazem. Leitch entende isso muito bem e enquanto dá espaço para inúmeros dublês terem seu momento de glória, ele despeja frases e referências a clássicos de uma era em que Hollywood escapava de questões políticas mais literais e se bastava com o escapismo puro do jeito americano de viver; consumo, sonhos, amores impossíveis, ação de mentira e piadas no limiar do aceitável.
Passear neste complexo terreno moderado, cada vez menos aceito na era de redes sociais, poderia fazer deste um filme indiferente. Mas o bom humor e o amor com que O Dublê expõe os bastidores do cinema, e até seus problemas, torna tudo agradável de se acompanhar - mais ainda ao lado de Gosling e Emily Blunt, ambos brilhantes.
O Dublê, no fim, se torna uma fantasia baseada na vida real. Se despindo de elementos sobrenaturais como magia ou alienígenas, claro, mas levando a audiência para uma época onde acreditar em mentiras sinceras, como heróis humanos e romances melosos, eram o real motor de grandes aventuras.
Crítica escrita após exibição do filme na CinemaCon. O Dublê estreia em 2 de maio nos cinemas brasileiros.

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