Nosso Sonho, filme de Claudinho e Buchecha, equilibra tom entre cinebiografia musical e drama familiar

Nosso Sonho, filme de Claudinho e Buchecha, equilibra tom entre cinebiografia musical e drama familiar

Filme conta a história da dupla das origens humildes à tragédia que vitimou Claudinho

Bruno Silva
18 de setembro de 2023 - 4 min leitura
Crítica

É de se esperar que uma cinebiografia sobre músicos lide, de alguma forma, com a emoção, especialmente quando ela tem um fim abrupto causado por uma tragédia. Levando isso em consideração, o maior acerto de Nosso Sonho, cinebiografia da dupla Claudinho e Buchecha, é encontrar o meio termo ideal entre a sobriedade e a hora de deixar os sentimentos fluírem.

O filme conta a história de ambos os artistas desde a amizade na infância, passando pela ascensão meteórica da dupla na cena do funk carioca nos anos 1990 até a morte de Claudinho em um acidente de trânsito em 2002. Tudo é contado a partir do ponto de vista de Buchecha (Juan Paiva), com uma história que se divide entre relações familiares e a carreira musical, a partir do reencontro do jovem com Claudinho (Lucas Penteado).

Conhecidos pelas letras leves e uma alegria contagiante no palco, a dupla vê a trajetória ascendente na música contrastar com diversos dramas familiares, como os problemas entre Buchecha e seu pai, Claudino (Nando Cunha), que o desprezava até o desabrochar de seu talento como cantor, ou as dificuldades impostas pela origem humilde de ambos.

Com uma mistura curiosa de filtro de cor e escolha de trilha sonora, Nosso Sonho narra uma história dos anos 1990 com uma cara de anos 1970, em especial pela trilha sonora original, que emula as notas de “Preciso Me Encontrar” tantas vezes que nos fazem pensar quando o samba de Cartola vai dar as caras no filme.

As canções, quase todas transformadas em hinos da década com o passar do tempo, são aproveitadas durante o filme, especialmente em momentos que o processo de composição é retratado na dramaturgia. Mas, talvez até como reflexo da curta discografia, fazem a parte musical dar lugar aos dramas familiares, especialmente quando o sucesso chega e transforma a vida da família.

Nesse ponto, Nosso Sonho acerta ao tratar sem melodrama, mas com emoção, os fortes momentos vividos por Buchecha e sua família, antes de lidar com a grande tragédia que definiu a carreira de ambos. Horas antes de morrer em um acidente na estrada entre Lorena (SP), onde se apresentaram, e o Rio de Janeiro, Claudinho havia desistido do show, mas mudou de ideia e fez o trajeto de ida e volta com o próprio carro, em vez da van do grupo.

Partindo da percepção de Buchecha sobre o acidente — o músico, inclusive, colaborou com o argumento de Fernando Velasco, Daniel Dias e Eduardo Albergaria — a tragédia ganha contornos místicos, nos quais Claudinho se transforma em um “anjo da guarda” que mudou a vida de Buchecha. Embora isso não diminua a importância do personagem, em especial pela energia de Lucas Penteado no papel, ficamos sabendo pouco de fato sobre ele, sua família e aspirações para além de ser uma influência positiva no amigo.

Independentemente das escolhas criativas sobre a história apresentada, Nosso Sonho vai além de uma simples adaptação de uma história de sucesso musical e não se furta em trazer um retrato da vida, com todas as suas alegrias e tristezas.

Nota da Crítica
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Bruno Silva
ONDE ASSISTIR

Nosso Sonho

Drama
Musical
1h 57min | 2023
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