Mulher-Hulk: Não é Magia de Verdade? - Crítica com Spoilers

Mulher-Hulk: Não é Magia de Verdade? - Crítica com Spoilers

Quarto episódio encontra o equilíbrio certo entre comédia e temas da narrativa

Guilherme Jacobs
8 de setembro de 2022 - 6 min leitura
Crítica

Não é à toa que Jennifer Walters (Tatiana Maslany) começa este episódio admitindo “vocês querem ver mais Wong né”. O Mago Supremo de Benedict Wong está, quase acidentalmente, virando o ícone da Fase 4 do Marvel Studios, aparecendo em três filmes e agora numa série. Wong é um personagem divertido nas mãos de um ator divertido, e colocá-lo lado a lado de Maslany em Mulher-Hulk? Fórmula para o sucesso.


Por isso, este episódio foi tão divertido. Wong decide processar um mágico de terceira chamado Donny Blaze (Rhis Coiro), depois que este usa o anel de abrir portais como um truque em seu show e manda uma jovem embriagada chamada Madisynn (Patty Guggenheim) para a casa do Mago Supremo. A natureza do processo, em si, é um pouco confusa, mas a série conta com isso. Wong parece estar processando Donny — cujo nome é uma piada com Johnny Blaze, o Motoqueiro Fantasma — por estar prejudicando e banalizando a imagem de magia real ao transformá-la em entretenimento? É ridículo, claro. Especialmente vindo da Marvel, um universo no qual tudo é motivo de piada. Mas essa é a ideia. Mulher-Hulk pula de cabeça no potencial cômico disso tudo.


É uma pena não termos tido mais tempo com Maslany, como humana, ao lado de Wong, já que é nestas instâncias que o poder da atriz para a comédia é mais bem-aproveitado, mas mesmo na forma Hulk, ainda uma distração, a dinâmica é ótima. Benedict Wong é um ator com tremendo alcance, capaz de entregar ambas seriedade dramática e irreverência lúdica. Aqui, ele ganha a chance de abraçar essa segunda habilidade e colocá-la em prática, e o cruzar de mundos dos magos com os advogados rende algumas risadas. Melhor, porém, é sua dinâmica com Madisynn. A mulher acaba virando a testemunha chave para a solução do caso e suas interações com Wong, particularmente ao descobrir a paixão do herói por Família Sopranos, são hilárias. Grande parte disso é por conta de como Guggenheim se torna quase imediatamente uma bomba atômica de risadas. Seu papel poderia, facilmente, ter se tornado irritante e cansativo, algo semelhante ao de Bukowski (Dennis Matthews) em capítulos anteriores, mas ela é dotada de um carisma natural que torna muito difícil, senão impossível, não gostar de sua presença em tela.


O ápice, então, é quando Walters não vê outra saída a não ser chamá-la para a bancada. Ela fortalecerá o caso contra Blaze, mas o processo não acontece de forma tranquila. Fechando o quadrangular brincalhão está Coiro, perfeito como um golpista charlatão tão perdido em sua própria ilusão que ele parece realmente acreditar nas babaquices saindo de sua boca.
Paralelo a isso, está a trama sobre a vida amorosa de Walters como Mulher-Hulk. Enquanto, como civil, ela parece incapaz de achar um date (e quando encontra, vai parar num desastre, o que pelo menos significa muitas oportunidades para Maslany fazer suas ótimas caras e bocas, como Hulk, estão chovendo homens. Mas, homens ainda são homens. Boa parte dos encontros ainda parecem acidentes em câmera lenta, até a chegada de Arthur (Michel Curiel). Ele é gentil, quer saber dela, e eventualmente vai para casa com a heroína num raríssimo momento de intimidade e sexualidade dentro de um Universo Marvel muitas vezes marcado por castidade. Tudo está indo bem até a interrupção de Wong, chamando a Mulher-Hulk para ajudá-lo a lutar contra demônios invocados erroneamente por Blaze.


A cena de luta não é exatamente sensacional, mas ela serve um propósito melhor do que os capítulos anteriores. Aqui, a batalha se torna o desfecho lógico do caso da semana. Em troca de ajuda, Blaze precisa ceder a vitória a Wong e sua advogada. Mulher-Hulk encontrou, desta vez, uma maneira natural de entrelaçar os lados de heroína e defensora de heróis da protagonista. Ainda é mais interessante quando a ação envolve menos socos e mais debates engraçados no tribunal, mas aqui, funcionou.


De volta em casa, Walters leva (literalmente) Arthur para a cama, mas a noite boa é arruinada por uma manhã decepcionante, quando o homem deixa claro ter interesse apenas na versão grande e esverdeada da mulher. Como Jennifer Walters, a Mulher-Hulk é só uma baixinha. É mais uma maneira interessante da showrunner Jessica Gao temperar a dinâmica específica de Jennifer e seus poderes com dilemas cotidianos e realistas de mulheres modernas. Se a série continuar a encontrar esses cruzamentos, misturando as vidas pessoais, profissionais e Hulkzais de Walters, o céu é o limite.

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

0h 0min
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