Ms. Marvel: Episódios 1 e 2 - Críticas Sem Spoilers

Ms. Marvel: Episódios 1 e 2 - Críticas Sem Spoilers

Charmosa, divertida e simples, série da Marvel conquista pela identidade visual e atuação principal

Guilherme Jacobs
7 de junho de 2022 - 7 min leitura
Crítica

Muitas vezes ouvimos a Marvel falando sobre como suas produções tocam em diferentes gêneros. Soldado Invernal como suspense político, Viúva Negra como espionagem, WandaVision como sitcom. Poucas vezes, porém, essa afirmação se mostrou tão verdadeira como em Ms. Marvel. De cara, a série estrelada por Iman Vellani como Kamala Khan, superfã da Capitã Marvel e adolescente paquistanesa, se apresenta como uma comédia teen, onde dramas de escola, amadurecimento, romance e família são tão presentes e importantes quanto, você sabe, superpoderes.


Essa abordagem fica clara no divertido e charmoso primeiro episódio, no qual somos apresentados a Kamala enquanto ela prepara um vídeo engraçado e artístico sobre os feitos da Capitã Marvel de Brie Larson em Vingadores: Ultimato, com muito destaque para o cabelo da heroína. A menina, aprendemos, vive sonhando. Ms. Marvel parece ter um belo entendimento do que significa ser adolescente, com fantasias sobre uma vida alternativa - mais grandiosas e explosivas - sublinhando as atividades do cotidiano e oferecendo uma fuga para as crescentes ansiedades do dia a dia. Ela precisa começar a pensar na faculdade, lidar com a pressão dos pais, com crushes inesperados e até com a prova de direção na autoescola. Nada disso é revolucionário ou inovador, qualquer pessoa familiar com histórias do tipo rapidamente reconhecerá os clichês conhecidos. O que, porém, deixa a estreia da série tão legal é o charme inserido não só por Vellani, como por vários atores coadjuvantes e a dupla de diretores Bilall Fallah e Adil El Arbi.


Os cineastas - também responsáveis por dirigir Batgirl - aplicam uma textura moderna e atual a Ms. Marvel, comunicando os sentimentos de personagens ou reproduzindo mensagens com emojis através de sinais de neon, grafites, rabiscos e outros meios visuais presentes nos cenários. Cada cena vibra com vida e cores. Nossos olhos são levados a passear pela tela em busca de novidades. Esse estilo dinâmico não só cria uma verdadeira identidade para Ms. Marvel, como também salva alguns cenários da mediocridade, já que como Cavaleiro da Lua, alguns ambientes desta série - particularmente os corredores da escola - parecem artificiais demais. É estranho que um estúdio tão cheio de recursos economize em coisas básicas, mas pelo menos há uma maquiagem melhor dessa vez.


O charme maior, porém, vem de Vellani. A jovem atriz de 19 anos não tem nenhuma sombra de estreante ou amadora. Pelo contrário, ela parece profundamente confortável no papel. Há ainda o teste maior de convencer como uma super-heroína, já que no primeiro episódio não há nada nesse sentido, mas dentro da missão de protagonista teen, ela entrega uma atuação carismática e divertida. A menina é tão boa, que até reforça o quão crus alguns de seus coadjuvantes - em especial Matt Lintz como o melhor amigo/interesse amoroso Bruno - são. Como consequência, as leituras e interpretações de algumas cenas entre os personagens mais novos perdem a energia cativante do restante da obra. Felizmente, quando o drama e comédia vão para dentro da residência Khan, as coisas voltam ao eixo.


Mohan Kapur e Zenobia Shroff são ótimos como Yusuf e Muneeba, os pais de Kamala. Ambos atores trafegam entre as emoções de pais com grandes expectativas e grande carinho pela filha. Eles são, claro, incapazes de entender plenamente adolescentes, o que gera risadas naturais, mas a dupla se mostra presente com as melhores intenções na vida de Kamala, então quando a garota os frustra, apesar de entendermos as necessidades dela, sentimos o peso da tristeza do pai e da mãe. É através da família, também, que entramos no lado cósmico de Ms. Marvel. Diferente dos quadrinhos, onde ela é Inumana, Kamala Khan ganha poderes ao colocar braceletes enviados por sua avó. Eles pertenciam à misteriosa bisavó da protagonista.


A aplicação dos poderes é, até certo ponto, parecida com os quadrinhos - braços de “luz sólida” saem das mãos da personagem, diferente das HQs nas quais ela pode esticar e aumentar partes do corpo - mas a mudança traz algumas consequências. Além das óbvias comparações com o Lanterna Verde, se perde a ligação feita pela criadora de Kamala - G. Willow Wilson - com corpos adolescentes e seus crescimentos estranhos e inesperados. De qualquer forma, Kamala se surpreende ao descobrir as habilidades e precisa treinar para aperfeiçoar o uso delas, descobrir a origem dos artefatos e lidar com as pessoas interessadas nela, incluindo agentes governamentais vistos em filmes recentes do MCU.


Este lado da história, porém, não é o foco dos dois primeiros episódios. Aqui, a ênfase maior é em Kamala como menina, não super herói. E quem pode culpar a showrunner Bisha K. Ali? Se você tem alguém tão magnética como Vellani e uma identidade visual coerente com a adolescência contemporânea, por que não explorar isso ao máximo? Não é como se Ms. Marvel se anunciasse como um clássico do gênero, o material é batido e clássico, mas a série sabe trafegar nessas águas muito bem. Resta agora saber como será seu desempenho quando esse encanto inicial começar a sumir e as escolhas narrativas tomarem mais o holofote, e quando os dramas saírem de festas escolares para batalhas cheias de efeitos especiais. Como sua heroína, Ms. Marvel precisará crescer e se adaptar. Por hora, contudo, podemos curtir esse simples, mas genuinamente prazeroso começo.

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

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