Mestres do Ar leva fórmula de Irmãos de Guerra aos céus em aventura emocionante

Mestres do Ar leva fórmula de Irmãos de Guerra aos céus em aventura emocionante

Dos mesmos criadores de Irmãos de Guerra e O Pacífico, nova série foca nos pilotos da Segunda Guerra Mundial

Guilherme Jacobs
26 de janeiro de 2024 - 7 min leitura
Crítica

Trazendo em seu sangue o mesmo DNA de uma das mais celebradas minisséries de todos os tempos (Irmãos de Guerra) e sua irmã mais nova e menos aclamada (O Pacífico), Mestres do Ar nos leva para os ares da Segunda Guerra Mundial para contar uma das histórias mais repetidas em Hollywood, a vitória dos Aliados sobre os nazistas, por uma nova perspectiva. Aqui, o drama não está no apontar da arma, nem nas trincheiras. Ele está nas nuvens.

Com foco no 100º grupo de bombardeio, a nova minissérie de John Orloff será instantaneamente familiar para quem viu as duas antecessoras. Mais uma vez aliado ao trio de produção formado por Steven Spielberg, Tom Hanks e Gary Goetzman, o roteirista adapta a história de pilotos que literalmente se jogavam na direção de explosões dentro de grandes latas de alumínio com a esperança de retardar pouco a pouco, e eventualmente reverter, o progresso da maldade.

Apesar de algumas mudanças estruturais em relação às anteriores, e de trocar a HBO pela Apple, Mestres do Ar é uma série interessada em exaltar a extraordinária simplicidade dos homens e mulheres que lutaram na Guerra, e ao fazê-lo, deixa seus atos e sacrifícios ainda mais emocionantes.

Claro, focar em americanos durante o combate a Hitler é algo que inúmeros filmes e séries fizeram, mas a familiaridade do tema não impede Mestres do Ar de cativar e impressionar. Afinal, o time envolvido nessa produção fez algumas das melhores versões dessas histórias, como O Resgate do Soldado Ryan e Irmãos de Guerra. Como nesses clássicos, o sucesso dessa série vem não pela celebração do patriotismo dos Estados Unidos, e sim pelo foco na individualidade dos personagens.

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Com Mestres do Ar, Orloff mais uma vez traz à vida personagens memoráveis com ajuda de um elenco no qual há uma mistura entre os melhores atores jovens da atualidade (Austin Butler, Barry Keoghan, Callum Turner, Ncuti Gatwa) e nomes desconhecidos, mas predestinados a crescerem (Anthony Boyle, Nate Mann, Branden Cook, Josiah Cross).

Assista a Irmãos de Guerra agora, e você verá alguns rostos que na época já eram estabelecidos (Damian Lewis, Ron Livingston) ao lado de outros que hoje são inescapáveis; Tom Hardy, Michael Fassbender e James McAvoy aparecem, todos com cara de bebê. Cada um destes ajudou a colorir um quadro onde mais que um protagonista, havia um vasto grupo de heróis de todo tipo. Em Mestres do Ar, o efeito será parecido, mas aqui Orloff alinha seu foco em um número mais limitado de pessoas, o que ajuda a evitar confusão (“qual é o nome deste mesmo?”) e dá mais tempo para cada uma se desenvolver por meio do humor, drama, coragem e perda.

No caso, o holofote está nos Majores Gayle “Buck” Cleven (Butler) e John “Bucky” Egan (Turner), assim como na jornada de Robert "Rosie" Rosenthal (Mann) e Harry Crosby (Boyle), homens cuja ascensão nas patentes só é rivalizada por sua transformação de jovens nervosos e relutantes em líderes de exemplo. Através desse quarteto, Mestres do Ar trata de temas atemporais, como dever e honra, em situações clássicas, mas aqui e ali encontra formas de modernizar seu discurso, particularmente através dos Tuskegee Airmen, aviadores negros frequentemente deixados de lado pelos livros de história.

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Alguns dos melhores momentos da série vêm quando estes soldados precisam entender que suas ações necessariamente resultam em morte, e no reconhecimento pessoal de cada um deles do que os diferencia de seus adversários. No processo, Butler e Turner exercem bem seus papéis como veteranos e celebridades, mas é a dupla Mann e Boyle que vai conquistar as audiências, especialmente dado o arco mais trabalhado de seus personagens.

Claro, há muito clichê nisso, mas o sucesso do texto da série em trabalhar cada um desses rostos, assim como os personagens menores, mas não menos importantes vividos por Keoghan, Gatwa, Cook, Cross e cia., inflama nosso coração e torna aquilo que poderia ser repetitivo ou até ingênuo (novamente, estamos falando de EUA e guerras) num material inspirador. Penso que há outra razão para isso: as ideias de fascismo defendidas pelos alemães na época vêm encontrando, infelizmente, cada vez mais espaço na sociedade moderna. Mestres do Ar pode ser mais uma história de soldados americanos na Segunda Guerra Mundial, mas ela é também um lembrete da necessidade de combater isto.

É um feito auxiliado tanto pela distância do Pacífico, onde a guerra tinha características mais sujas e onde a ideia de um avião americano jogando bombas tem outra conotação, e também pelo foco em pilotos. As sequências de ação de Mestres do Ar encontram menos intensidade na troca de tiros e mais na necessidade de manter um avião no ar, encontrar a rota certa para o voo e manter o alvo na mira. Engenheiros, cartógrafos, pilotos e mecânicos são os heróis.

O resultado é quase uma lavagem da alma. Aproveitando a presença constante nos céus, ambiente onde o diretor Cary Fukunaga encontra amplo espaço tanto para o desespero do combate quanto para a purificação do vento, Mestres do Ar nos leva de volta à essência da luta entre o bem e o mal. Esse pode ser um discurso simplório, e aqueles enjoados desse tipo de narrativa podem descartar a série quase instantaneamente, mas para quem encontrar a disposição, e até tiver a vontade, a forma como a minissérie aborda suas ideias a transformará num clássico instantâneo.

Crítica publicada originalmente em 24 de janeiro de 2024. Mestres do Ar estreia com dois episódios na Apple TV+ em 26 de janeiro.

Nota da Crítica
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Guilherme Jacobs
ONDE ASSISTIR

Mestres do Ar

Guerra
1h 0min | 2024
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