
Divertido, MaXXXine nunca alcança o potencial que Mia Goth e sua protagonista merecem
Terceiro filme de Ti West acaba engolido pelo modus operandi de Hollywood e fica maior do que deveria

Crítica
Mia Goth é uma estrela. E se ela ainda não desgarrou ainda da saga de Ti West - mesmo já tendo estrelado Infinity Pool nesse meio tempo -, a verdade é que o combo Maxine e Pearl transformou a atriz em uma das mais cobiçadas do gênero, incluindo aí um possível papel como Lilith, a rainha dos vampiros, no vindouro filme do Blade, além do Frankenstein, de Guillermo del Toro.
Existe um fator determinante para o sucesso da trilogia começada com X: A Marca da Morte, seguida pelo prequel Pearl e agora (aparentemente) encerrada com MaXXXine: o brilho que a atriz traz para as produções. Se em X ela ainda divide bastante o tempo de tela com outros personagens (Jenna Ortega incluída), a maior supresa vinha guardada ao final, quando descobrimos que a atriz interpretava não só Maxine, mas também a idosa Pearl. Alguns meses depois, a própria Mia Goth estrelou o prequel, fazendo a versão jovem de Pearl, que lhe rendeu aplausos e pedidos de nomeação em premiações. O monólogo da personagem e os créditos finais, com o macabro sorriso da jovem, ficaram marcados naquele ano e ainda figuram listas de melhores momentos e atuações recentes do gênero.
Em MaXXXine, a terceira parte dessa história, Mia Goth volta a repetir esse star power, carregando nas costas um filme que diz muito sobre a Hollywood que sua personagem tanto busca a fama. A simplicidade e concisão das duas histórias anteriores acabam engolidas por um emaranhado de referências, novos personagens (interpretados por estrelas maiores) e uma trama que nunca alcança a força que realmente poderia ter.
Na trama, acompanhamos Maxine, alguns anos após os eventos de X, agora morando em Los Angeles, e sendo uma atriz de filmes adultos reconhecida nas ruas. Mas ela quer mais e já na sua primeira cena acompanhamos seu teste para uma produção “séria”, uma continuação de um filme de terror de sucesso. Paralelo a isso, um serial killer, o Night Stalker, está matando jovens mulheres e atrizes, levando o foco da investigação para próximo de Maxine, que ainda é perseguida por um investigador particular (Kevin Bacon), que está de olho no passado dela.
O filme sofre em mesclar e dar relevância para todas essas histórias, mesmo que o produto final ainda seja divertido de se assistir. Bacon está bem como o detetive que entra no caminho de Maxine com provas do massacre da fazenda, reacendendo a imagem de Pearl na mente da jovem. Essa tensão psicológica, com visões da idosa em dois bons momentos (especialmente o da maquiagem), acaba nunca rendendo algo realmente forte para a história e se perde na trama de serial killer, que também entrega um final bem, digamos, duvidoso em tom e relevância.
É impossível não comparar o filme com Era uma Vez em… Hollywood e acabar enxergando na boa direção de Ti West algo que muitos criticaram em seus filmes anteriores: um agregador de ideias de outras obras. MaXXXine acaba sofrendo com a própria fama que criou, com o diretor se autorreferenciando o tempo todo. Seja em detalhes como o pote em formato de ganso onde ela guarda a cocaína ou na cena da maquiagem, citada acima, com os quilos de próteses que deram vida a Pearl, em X, sufocando Mia Goth.
E mais uma vez, vale destacar o maravilhoso trabalho da atriz com a personagem. Da abertura do filme, ao encontro dela com um stalker, seu conflito com Kevin Bacon e a relação dela com o (ótimo) agente vivido por Giancarlo Esposito, Goth brilha em todos os momentos que aparece. Isso nos faz questionar, mais uma vez, certas decisões do roteiro, que tiram essa força impulsiva da personagem, principalmente no ato final.
MaXXXine, ainda que seja divertido, com uma bela fotografia de Los Angeles e com uma protagonista imponente, nunca deixa de ter aquele gostinho de que poderia ter sido algo a mais. Falta ser mais filme de terror e menos aula sobre a década de 1980 (algo que vem se repetindo em diversos filmes que abordam os 1980s e 1970s). Falta o impacto do terror que os serial killers espalhavam pelos EUA. A perseguição dos puritanos contra a arte. Mas falta, principalmente, entender que as referências (Massacre da Serra Elétrica e filmes technicolor) eram o charme dos filmes passados, não o norte que deveriam seguir.
Maxine e Mia Goth mereciam algo maior, digno das estrelas que são, mas receberam apenas um papel em um filme legal.

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