Loki: Por Todo Tempo. Sempre - Crítica do Chippu

Loki: Por Todo Tempo. Sempre - Crítica do Chippu

Conclusão da série traz consequências cósmicas para o MCU

Guilherme Jacobs
14 de julho de 2021 - 9 min leitura
Crítica

Este texto contém spoilers de "Por Todo Tempo. Sempre", episódio final da primeira temporada de Loki


Sem volta pra casa agora. A loucura está, de vez, instituída no Universo Cinematográfico da Marvel. Aliás, insisto, Kevin Feige e companhia podem mudar o título oficial para Multiverso Cinematográfico da Marvel. Com uma conclusão épica mas sem grandes fechamentos (afinal, a cena pós-créditos confirma a segunda temporada), Loki abre infinitas possibilidades para o futuro deste estúdio cuja maior qualidade até aqui era a capacidade de criar mundos perfeitamente alinhados, dando a fãs e casuais algo divertido e acessível. Agora, eles entram em seu maior desafio.


Loki (Tom Hiddleston) e Sylvie (Sophia Di Martino) chegam à Cidadela no Fim dos Tempos para confrontar o criador da Autoridade de Variância Temporal (AVT). Ao chegar lá, a dupla de variantes descobre um local abandonado, vazio, com estátuas quebradas e apenas a Senhorita Minutos (Tara Strong) para recebê-los. Ela oferece aos dois uma troca - deixem este misterioso fundador em paz e retornem para a Linha do Tempo Sagrada, sem risco de serem podados. Os Lokis recusam a oferta e se colocam frente a frente a Aquele Que Permanece, interpretado por ninguém mais, ninguém menos, que Jonathan Majors.


O ator de Lovecraft Country já está confirmado em Homem-Formiga e Vespa: Quantumania como o poderoso e temível vilão Kang, O Conquistador. Aqui, seu nome pouco importa. Assim como nas HQs, seu título é Aquele Que Permanece, mas o episódio o apresenta como a variante de um cientista responsável por descobrir o multiverso, estabelecer contato com as versões diferentes de si e, eventualmente, iniciar a guerra do multiverso contra todas elas. Ele, como seu nome diz, permaneceu, criou a AVT e garantiu que qualquer variação temporal seja apagada antes de criar outro universo, outro ele.


A aparição de Majors deu a Loki o tipo de momento final esperado, mas não recebido, em WandaVision ou Falcão e o Soldado Invernal. Não é para desmerecer as aparições do Visão Branco ou de Julia Louis-Dreyfus como Contessa Valentina Allegra de Fontaine, mas Majors, um ator já confirmado como o provável próximo grande vilão dos filmes da Marvel, automaticamente se encontra em outro patamar de importância para a mitologia.


Além disso, seu nível de atuação é outro também. No momento em que aparece em tela, ele domina a série e toma o holofote até mesmo de Hiddleston. Sua presença corporal é ímpar. Igualmente desleixado, maluco e plenamente consciente, Aquele Que Permanece de Majors exala um controle sufocante em cada cena, tirando o ar até mesmo para o deus da trapaça. Nunca vimos Loki como ele fica aqui. Sim, o personagem já apareceu desesperado, aterrorizado e, em episódios recentes, emocionalmente vulnerável, mas há algo impactante em vê-lo sem chão. Hiddleston, como tem feito ao longo da primeira temporada inteira, não foge ao desafio.


E Majors, por sua vez, precisa ser excelente. Sua função é explicar. Aquele Que Permanece precisa jogar uma quantidade exorbitante de informação para os Lokis e para nós, ele é o responsável por - usando suas próprias palavras - pavimentar a estrada pela qual vamos caminhar agora. Há, basicamente, dois caminhos. Ou os asgardianos o matam, eliminando a pessoa responsável por impedir suas próprias variantes de instalarem o caos, ou assumem seu posto como comandante da AVT. Um Loki acha a segunda opção mais sábia, a outra não.


Sylvie insiste em matá-lo. Ela prefere a anarquia ao fascismo cada vez mais claro da AVT ("só aquele no comando tem livre arbítrio", argumenta a juíza Renslayer de Gugu Mbatha-Raw ao Mobius de Owen Wilson, enquanto este revela a verdade para todos os membros da agência). Loki, por sua vez, detecta, pela primeira vez, a verdade. Se Aquele Que Permanece morrer, suas variantes vão mesmo começar a guerra do multiverso. Algo assustador surgirá.


É uma escolha interessante para a série. Como a própria Sylvie argumenta, quem não garante que Loki quer aceitar a proposta desta figura misteriosa só para ser o comandante da AVT? Para ter um trono? Isso é exatamente o desejo do Loki lá do primeiro episódio, antes de toda sua jornada pessoal e transformação. Ao escolher poupar Aquele Que Permanece, o personagem está indo, aparentemente, na contramão de todo o seu desenvolvimento até aqui. A questão é por que ele escolhe isso, e o roteiro nos revela Sylvie como o motivo. Nosso Loki quer garantir a segurança desta amada variante acima de tudo.


Hiddleston é a principal arma da série para nos convencer deste fato. Ele derrama as emoções do personagem na tela ao tentar convencer sua amada variante de abandonar a vingança. Ela também o ama, mas não consegue confiar nele. Então, logo após um beijo apaixonado, empurra Loki por um portal de volta para a AVT e mata Aquele Que Permanece, efetivamente garantindo o nascimento de variações desta figura quase onisciente. Uma delas, com certeza, cheia de desejo por conquista. Kang está vindo.


Pela janela da Cidadela, vemos a Linha do Tempo Sagrada se transformar num labirinto cósmico, num céu estrelado onde cada pontinho brilhante representa outro universo. Um cosmos de possibilidades. Numa está um mundo no qual T'Challa virou membro dos Guardiões da Galáxia (como What If...? nos mostrará em agosto), noutra está Peter Parker (Tobey Maguire) lutando contra o Doutor Octopus (Alfred Molina) cuja próxima aparição será no MCU. O episódio não mostra nada disso, claro, mas sabemos o significado da escolha de Sylvie.


De volta na AVT, Loki busca Mobius e B-15 (Wunmi Mosaku) para avisá-los do que aconteceu, mas percebe algo errado. Mobius não o reconhece, a AVT não está em caos. No centro da agência, no lugar das três estátuas dos falsos Guardiões do Tempo, está uma imagem gigante de Majors. Kang está vindo.


Tudo isso é profundamente empolgante para o futuro da Marvel. O estúdio fez algo beirando o incompreensível para quem não lê posts explicativos como os que fazemos aqui, não acompanha as notícias não sabe quem Majors interpretará no próximo Homem-Formiga, ou não frequenta os fóruns de teoria no Reddit. É uma aposta, mas o seu custo é alto para o episódio. "Por Todo o Tempo. Sempre" não é um bom final de temporada. Sim, a temática de Loki abandonando o desejo por glória em troca de verdadeiras conexões pessoais é sublinhada, mas um bom season finale prepara o futuro enquanto dá uma sensação de fechamento. Aqui, isso não está tão presente.


Mas para a grande maioria, o fechamento não é importante. Maior é a empolgação de imaginar os futuros pelos quais a Marvel irá caminhar agora. E o responsável por abrir este leque de possibilidades foi o mesmo vilão que, há quase 10 anos, forçou os Vingadores a se unirem. Primeiro, ele juntou as coisas. Agora, as espalhou para sempre.

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

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