
La Chimera: Carol Duarte é ótima em filme fragmentado de Alice Rohrwacher
Atriz brasileira é uma das melhores partes da nova obra da celebrada diretora italiana

Crítica
Em 2018, a diretora Alice Rohrwacher venceu o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes, com Lazzaro Felice, uma história que mistura realidade fantástica e comentário social ao mostrar um jovem camponês simples e de coração puro sobrevivendo na cidade grande. Rohrwacher fala sobre passado e modernidade com sutileza, humor e chegou a ter seu trabalho comparado ao de Pasolini por alguns críticos. Com La Chimera, a diretora voltou ao tapete vermelho francês trazendo os elementos que deram certo no filme anterior.
Acompanhamos Arthur (Josh O'Connor), um “arqueólogo” inglês que vive na Itália roubando artefatos de tumbas. Ele é cercado por uma trupe que o seguem devido ao dom do “Englishman” de encontrar as tumbas escondidas, o que os permite ganhar um bom dinheiro com a venda dos objetos. Nesse meio tempo, ele conhece Italia, interpretada pela ótima brasileira Carol Duarte. Ela vive (e esconde alguns segredos) na casa da mãe do grande amor de Arthur, uma mulher que hospeda outras jovens em situação parecida.
Assim como foi em Lazzaro Felice, é uma delícia ver o cotidiano de Arthur e dos companheiros italianos. O festival de rua, os esquemas para aplicar os golpes, a negociação de venda das peças, tudo embalado com uma trilha sonora maravilhosa que vai de Monteverdi e Mozart até Kraftwerk.
O filme não se propõe a ser uma janela para uma realidade que continua após os créditos finais. Há elementos mais fantásticos e a narrativa busca isso o tempo todo, seja na história de amor de Arthur, seja no dom dele ou mesmo na decisão da diretora de diversas vezes quebrar a quarta parede.
O grande problema de La Chimera é o excesso de tramas e situações que nunca entregam por completo o que é esperado delas. Só o protagonista tem: a relação dele com os artefatos, com a família de Beniamina (Yle Vianello), amor dele, e com Italia. Ela, por sua vez ainda traz elementos de imigrantes e segredos que precisa esconder para sobreviver. Mesmo com as mais de duas horas de duração, Rohrwacher não consegue amarrar todos esses elementos (mais alguns).
A diretora mantém o domínio dos personagens o tempo inteiro. Arthur é calado, se comunica com o olhar e as expressões faciais fortemente marcadas de O’Connor. Todas as cenas dele com Isabella Rossellini são pontos altos do filme, assim como a que ele descobre uma tumba na beira da praia. Carol Duarte entrega uma vitalidade e um humor essenciais para que Italia não caia em um maniqueísmo da imagem da imigrante-trabalhadora. É nos arcos onde os insere, e não em suas concepções, que o filme peca.
Não há como negar que após As Maravilhas e Lazzaro Felice, La Chimera soe um pouco decepcionante. Alice Rohrwacher esquece de fazer como Arthur; ela não cola os fragmentos dessa peça, e vende uma obra que mesmo sendo esteticamente linda, permanece incompleta.
La Chimera ainda não tem previsão de estreia no Brasil

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