Jogos Mortais X distorce ideia de Jigsaw para arrumar uma desculpa desnecessária ao espectador

Jogos Mortais X distorce ideia de Jigsaw para arrumar uma desculpa desnecessária ao espectador

Novo longa coloca serial killer em desnecessário papel de justiceiro e anti-herói

Bruno Silva
28 de setembro de 2023 - 4 min leitura
Crítica

Em um dos momentos mais tensos de Jogos Mortais X, Jigsaw se dirige a um interlocutor que lhe tentou passar um golpe com ironia: “uma lição de moral vinda de você?”. A frase, que é devolvida ao assassino vivido por Tobin Bell na mesma moeda, é um bom resumo do décimo filme desta franquia de terror que despontou pela inovação e, sem novas ideias, decidiu ir pelo pior caminho possível: o de reinventar seu personagem mais famoso como um justiceiro de forma mais rasa possível.

Situado logo após o primeiro filme dentro da cronologia de Jogos Mortais, X coloca Jigsaw (ou John Kramer, o verdadeiro nome do protagonista) em busca de um milagre para se curar do câncer no cérebro. O lado civil do personagem ocupa boa parte do filme, quando ele se depara com uma chance de se submeter a um tratamento experimental no México. No entanto, tudo é uma armação e Kramer coloca suas habilidades de tortura e manipulação emocional ao trabalho mais uma vez.

A princípio, a ideia parece interessante. Afinal, colocar a mente por trás de manipulações perversas no papel de vítima pode oferecer uma nova perspectiva sobre o personagem, e dar oportunidade de explorar novas camadas de complexidade. Ao mesmo tempo, o filme também coloca Jigsaw como alguém em busca de vingança, outro tema recorrente na franquia.

O filme investe pesado na ideia, dedicando muito tempo para construir uma falsa esperança em Kramer (e no espectador), passando em detalhes por diversas etapas do tratamento. Quando ele percebe que foi passado para trás, no entanto, o filme engata a terceira marcha e se apressa para montar as situações de tensão a quais estamos acostumados, colocando praticamente todos os envolvidos no golpe na mesma sala — o que pode ser interpretado também como um sinal de economia de orçamento.

Em sua história de vingança, Jogos Mortais X acaba tentando pintar Jigsaw como um simples justiceiro, em busca de devolver o golpe que sofreu, repetindo a todo tempo um código moral que simplesmente não combina com um personagem e uma série de filmes que conduziu a transformação de seus personagens pelo caminho da imoralidade.

O filme até tenta expor as contradições de Kramer por meio de sua antagonista, a vigarista Cecilia Pederson (Synnøve Macody Lund), mas o roteiro conduzido a toque de caixa não dá nem tempo para que essa dualidade seja minimamente explorada, preferindo devolver Jigsaw a um improvável papel de anti-herói da forma mais tosca possível.

Na era das franquias do cinema, Jogos Mortais X parece querer dar contornos de super-herói a seu protagonista justamente para garantir uma continuidade, o que não deixa de ser bizarro, levando em conta que estamos falando do décimo filme da saga, ainda tentando trazer o espectador para uma posição de empatia para com o protagonista, o que é igualmente inútil, pois quem vai assistir ao décimo filme de Jogos Mortais precisa de tudo, menos um motivo para observar seu maior nome torturar física e psicologicamente suas vítimas.

Nota da Crítica
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Bruno Silva

Jogos Mortais X - O Final

Terror
Suspense
0h 0min | 2023
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