Invencível: 1ª Temporada - Crítica do Chippu

Invencível: 1ª Temporada - Crítica do Chippu

Baseada na HQ de Robert Kirkman, história foge do óbvio mas ainda mantém um coração heroico

Guilherme Jacobs
30 de abril de 2021 - 7 min leitura
Crítica

O mundo de adaptações de histórias em quadrinho de super-heróis chegou no ponto em que propriedades que não são da Marvel ou DC Comics estão ganhando suas produções. Com isso, vêm abordagens diferentes aos temas e conceitos que já são familiares para fãs dos Vingadores e Liga da Justiça. É dessa iniciativa que saem séries como The Boys, O Legado de Júpiter e Invencível, animação da Amazon Studios que adapta a HQ de mesmo nome criada por Robert Kirkman (The Walking Dead).


Esta última concluiu nesta sexta-feira (30) sua primeira temporada, com mais duas já confirmadas. A obra de Kirkman é curiosa dentro dessas novas adaptações por tentar, ao mesmo tempo, subverter o gênero e se manter fiel a ele. Enquanto The Boys traz uma visão mais cínica, por exemplo, Invencível ainda mantém um coração heroico, aliando a isso um roteiro mais cômico e divertido, sem medo de, às vezes, ser puramente um blockbuster. Mas como resultado, o produto final nem sempre funciona, às vezes gerando um contraste estranho entre a violência demonstrada na tela e o tipo de história que está sendo contada.


Falando na narrativa, ela é protagonizada por Mark Grayson, um garoto de 17 anos que começou a desenvolver poderes e vive na sombra de seu pai, Nolan, o Omni-Man. Ele é o equivalente ao Superman deste mundo, super poderoso e liderando os Guardiões do Globo na proteção da Terra contra ameaças extraterrestres, de outras dimensões, e mais. O garoto precisa equilibrar o início de sua carreira de super-herói com as responsabilidades familiares, o relacionamento com sua mãe Debbie e os relacionamentos com os colegas da escola, incluindo sua nova namorada Amber.


Para trazer este mundo à vida, a Amazon contratou um dos melhores elencos de dublagem que já vi. Steven Yeun, J.K. Simmons, Sandra Oh, Zazie Beetz, Walton Goggins, Gillian Jacobs, Mark Hamill, Zachary Quinto e Clancy Brown estão entre os nomes que compõem essa galáxia de estrelas cujas vozes foram emprestadas à história de Kirkman, e com perfeição. O trabalho de casting foi feito com muito cuidado, dando à cada personagem o tom perfeito para fazer seus diálogos e falas saltarem da tela com vida e energia.


Ao longo de oito episódios, Invencível - tal como Grayson - faz um trabalho de equilíbrio, balanceando a vida de Mark com o chocante assassinato dos Guardiões do Globo e a suspeita de que Omni-Man não é o herói que aparenta ser. O começo da série tem muitas apresentações, seja de personagens ou conceitos, a fazer, mas eventualmente o ritmo acelera e o mundo de Invencível abre suas asas.


Estruturalmente, alguns episódios tem histórias contidas em si mesmo e aparentam não ter conexões com o enredo principal, mas as aparências podem enganar e, eventualmente, certas conexões acontecem, criando ligações interessantes entre cantos diferentes deste mundo. Mesmo quando isso não acontece, entretanto, Invencível ainda é agradável. Mesmo seguindo claras inspirações da Marvel e DC Comics, a criação de Kirkman é divertida, colorida e interessante o suficiente para prender sua atenção. Seja ao mostrar um conflito em Marte, ao revelar a existências de robôs frankenstein ou mesmo ao apontar para um conflito intergaláctico que deve se tornar central no futuro, há sempre algo curioso ou empolgante acontecendo.


É na grande narrativa que as coisas sofrem mais tropeços. A investigação sobre os segredos do Omni-Man e a morte dos heróis move a passos bem lentos, com certa razão, afinal investigar o Superman não seria algo fácil de se fazer, mas ainda sim o roteiro parece precisar atrasar algumas conclusões para dar tempo de completar o arco narrativo pelo qual Mark, cujo nome de herói dá título à série. Quando essas duas áreas se cruzam, entretanto, e temos os preciosos momentos entre pai e filho, todo o drama e alegria que vem com isso, é que temos os destaques da primeira temporada. Invencível, acima de tudo, quer imaginar o que um mundo de heróis faria com a geração a seguir, o que a fama, responsabilidade e legado de ser herdeiros de mantos pesados causa em jovens e adolescentes poderosos. Ser filho de Nolan Grayson não é fácil.


Omni-Man também é responsável pelos maiores atos de violência da série, inclusive um banho de sangue no último capítulo que é digno de obras de grindhouse. São nesses momentos que a coisa fica estranha, para dizer o mínimo. De um lado, Invencível é tão divertido e colorido quanto uma história dos Vingadores, e a brutalidade às vezes dá um tempero diferente para isso, mas há horas onde aparentemente a animação precisa alcançar uma cota de mortes com o objetivo de chocar simplesmente pelo choque.


Se o clima de Invencível fosse mais cético em relação ao seu mundo e heróis, tudo isso se encaixaria melhor. Mas Kirkman e a equipe de roteiristas e diretores são incapazes de esconder suas inspirações e gostos, o que faz cenas como uma envolvendo um metrô no finale se destoarem de maneira ruim. Mas não creio que a resposta para esse dilema seja esconder essas inspirações, já que o heroísmo persistente de Invencível é grande parte do que torna seu mundo tão agradável e cativante. Apesar do sangue, da decepção paternal, do impacto de super-heróis na realidade, é nas poses heroicas que Invencível nos convence ser, exatamente, invencível.

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

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