
Sundance: Landscape with Invisible Hand não consegue decidir que tipo de filme será - Crítica do Chippu
Incapaz de encontrar a sintonia entre o humor e drama, novo filme de Cory Finley é uma das decepções do Festival de Sundance

Crítica
FESTIVAL DE SUNDANCE: Poucos filmes nos últimos anos demonstraram tanto um controle preciso de humor, drama e da quase indefinível criação proveniente da união dos dois quanto Puro-Sangue, de Cory Finley. A risada pelo proibido. O cômico que machuca. O cineasta parecia entender exatamente como misturar, realçar e enriquecer cada um desses elementos usando o outro e, no processo, nos incomodava de maneira magnética, nos desafiando a continuar assistindo sem nunca nos fazer querer desviar o olhar. Em seu novo filme, Landscape with Invisible Hand, o cineasta tenta intensificar isso, se apoiando ainda mais nesse abstrato, mas no processo perde ambos de vista.
Em seu novo experimento, Finley nos leva para uma Terra totalmente dominada por extraterrestres, mas de um jeito pós-moderno que vê nosso apocalipse não como uma chuva de fogo, mas sim como uma aquisição hostil por uma megacorporação.
Os Vuvv, criaturas melhor descritas como perus natalinos com a textura de uma lata de atum cru cuja comunicação acontece esfregando as palmas — como se estivessem aguardando ansiosamente a próxima maneira de nos explorar — já são nossos novos senhores corporativos (e mais) há cinco anos quando conhecemos Adam (o competente mas pouco dinâmico Asante Blackk). Aqui, a colonização só chegou na fase de eliminar os líderes de cada nação depois que os alienígenas tomaram a economia global nos apresentando a tecnologias superiores a qualquer invenção do Vale do Silício e eventualmente se tornando o monopólio dessa, e outras áreas de mercado. Agora, eles dominam o ensino e toda indústria, e aos poucos empurram os humanos para fora.
O conceito é inteligente, e oferece algumas das melhores ideias e conceitos do filme de Finley. Claro, após nos dominarem, eles nos colocaram para baixo e se separaram como a elite da elite numa versão ainda mais tardia do capitalismo atual onde tudo, até mesmo o namoro de adolescentes, é monetizado. Aprendemos sobre essa fonte de renda questionável quando Adam, um jovem com pais divorciados e talento artístico, começa a namorar com Chloe (Kylie Rogers), após trazer a garota e sua família para morar em seu porão contra a vontade da mãe (Tiffany Haddish). Com a menina vêm o irmão, Hunter (Michael Gandolfini), cujas visões raciais são questionáveis, e o pai (Josh Hamilton, desconstruindo sua figura de paizão amoroso com a melhor atuação da obra).
Os dois são bons pontos de partida para levantar os problemas do filme. Os comentários de Hunter sobre a desigualdade de classe com de sua família (branca) para a de Adam (negro), é, supostamente, fruto da ignorância gerada pelo novo sistema educacional, enquanto o patriarca vivido por Hamilton é alguém que, digamos, acamparia na frente de bases extraterrestres pedindo intervenção caso os humanos tomassem de volta o planeta. As piadas geradas pelos dois não passam do mais óbvio do óbvio, operando na mais simples camada de sátira e comentário político ao ponto de parecem vindas de Não Olhe Para Cima. Assim é com quase toda premissa interessante de Landscape with Invisible Hand. Esfregamos as mãos como os aliens, na expectativa do que virá, mas o filme não desdobra nada para além do básico.
Finley nunca consegue acertar as doses de seriedade e comédia, e parece errar nisso por nunca decidir exatamente qual é o tom do longa-metragem. A paródia é clara, mas situações da história como um casamento forçado entre a personagem de Haddish, equivocadamente escalada para dar um toque de humor exagerado ao ambiente familiar, e um alienígena, ou o clímax Orwelliano, no qual os invasores roubam o significado da arte de Adam, sugerem uma violência emocional e intelectual forte o suficiente para não ignorarmos, mas cujo impacto é fraco demais para gerar alguma resposta.
A mistura de riso e choro, aqui, não desarma o espectador para então nos pegar de surpresa. Ao invés de se contrastarem e complementarem, as abordagens sugam o ar uma da outra, removendo qualquer tipo de peso ou importância até sermos deixado com algo morto entre os dois extremos.
2/5

Você pode gostar
O Brutalista: Épico de Brady Corbet flutua entre majestoso e frustrante
Leia nossa crítica do longa de Brady Corbet com Adrien Brody

Venom: A Última Rodada fecha a trilogia com um ensaio de comoção
Terceiro filme ainda aposta no escracho mas com exagerada timidez

Irmãos é comédia sem inspiração e um desperdício do talento de Josh Brolin e Peter Dinklage
Max Barbakow passa longe do sucesso de Palm Springs

Canina é o bom filme que Amy Adams buscava há anos, mas derrapa nas mil e uma explicações
Comédia dramática utiliza imagem da atriz sem medo do ridículo
