Sundance: Landscape with Invisible Hand não consegue decidir que tipo de filme será - Crítica do Chippu

Sundance: Landscape with Invisible Hand não consegue decidir que tipo de filme será - Crítica do Chippu

Incapaz de encontrar a sintonia entre o humor e drama, novo filme de Cory Finley é uma das decepções do Festival de Sundance

Guilherme Jacobs
27 de janeiro de 2023 - 5 min leitura
Crítica

Em seu novo experimento, Finley nos leva para uma Terra totalmente dominada por extraterrestres, mas de um jeito pós-moderno que vê nosso apocalipse não como uma chuva de fogo, mas sim como uma aquisição hostil por uma megacorporação.

Os Vuvv, criaturas melhor descritas como perus natalinos com a textura de uma lata de atum cru cuja comunicação acontece esfregando as palmas — como se estivessem aguardando ansiosamente a próxima maneira de nos explorar — já são nossos novos senhores corporativos (e mais) há cinco anos quando conhecemos Adam (o competente mas pouco dinâmico Asante Blackk). Aqui, a colonização só chegou na fase de eliminar os líderes de cada nação depois que os alienígenas tomaram a economia global nos apresentando a tecnologias superiores a qualquer invenção do Vale do Silício e eventualmente se tornando o monopólio dessa, e outras áreas de mercado. Agora, eles dominam o ensino e toda indústria, e aos poucos empurram os humanos para fora.

O conceito é inteligente, e oferece algumas das melhores ideias e conceitos do filme de Finley. Claro, após nos dominarem, eles nos colocaram para baixo e se separaram como a elite da elite numa versão ainda mais tardia do capitalismo atual onde tudo, até mesmo o namoro de adolescentes, é monetizado. Aprendemos sobre essa fonte de renda questionável quando Adam, um jovem com pais divorciados e talento artístico, começa a namorar com Chloe (Kylie Rogers), após trazer a garota e sua família para morar em seu porão contra a vontade da mãe (Tiffany Haddish). Com a menina vêm o irmão, Hunter (Michael Gandolfini), cujas visões raciais são questionáveis, e o pai (Josh Hamilton, desconstruindo sua figura de paizão amoroso com a melhor atuação da obra).

Os dois são bons pontos de partida para levantar os problemas do filme. Os comentários de Hunter sobre a desigualdade de classe com de sua família (branca) para a de Adam (negro), é, supostamente, fruto da ignorância gerada pelo novo sistema educacional, enquanto o patriarca vivido por Hamilton é alguém que, digamos, acamparia na frente de bases extraterrestres pedindo intervenção caso os humanos tomassem de volta o planeta. As piadas geradas pelos dois não passam do mais óbvio do óbvio, operando na mais simples camada de sátira e comentário político ao ponto de parecem vindas de Não Olhe Para Cima. Assim é com quase toda premissa interessante de Landscape with Invisible Hand. Esfregamos as mãos como os aliens, na expectativa do que virá, mas o filme não desdobra nada para além do básico.

Finley nunca consegue acertar as doses de seriedade e comédia, e parece errar nisso por nunca decidir exatamente qual é o tom do longa-metragem. A paródia é clara, mas situações da história como um casamento forçado entre a personagem de Haddish, equivocadamente escalada para dar um toque de humor exagerado ao ambiente familiar, e um alienígena, ou o clímax Orwelliano, no qual os invasores roubam o significado da arte de Adam, sugerem uma violência emocional e intelectual forte o suficiente para não ignorarmos, mas cujo impacto é fraco demais para gerar alguma resposta.

A mistura de riso e choro, aqui, não desarma o espectador para então nos pegar de surpresa. Ao invés de se contrastarem e complementarem, as abordagens sugam o ar uma da outra, removendo qualquer tipo de peso ou importância até sermos deixado com algo morto entre os dois extremos.

2/5

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

0h 0min
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