Falcão e o Soldado Invernal - Episódio 5: Crítica do Chippu

Falcão e o Soldado Invernal - Episódio 5: Crítica do Chippu

Em seu melhor episódio até aqui, a série aborda seus temas com muita clareza e qualidade

Guilherme Jacobs
16 de abril de 2021 - 7 min leitura
Crítica

O texto a seguir contém spoilers de "Verdade", o quinto episódio de Falcão e o Soldado Invernal


O criador de Falcão e o Soldado Invernal, Malcolm Spellman, diz em entrevistas há semanas que o quinto episódio, "Verdade", é o seu favorito, ele é o ápice dramático da história e deixaria os fãs muito alegres. Ele não estava brincando. Em seu primeiro capítulo com mais de uma hora, a série abordou seus temas com clareza e qualidade, voltando à narrativa dirigida pelos personagens que tanto impressionou na estreia, e preparou o terreno para uma conclusão bombástica.


Tudo começa com a aguardada luta entre John Walker (Wyatt Russell) e os personagens titulares, Sam (Anthony Mackie) e Bucky (Sebastian Stan). O confronto carrega um grande peso emocional, visto que Walker acabou de cometer um assassinato e manchar o escudo com sangue, além, é claro, de ter a fórmula de super soldado em seu corpo. Os heróis precisam de muito esforço para derrotar o "novo Capitão América", e a luta danifica o braço do Soldado Invernal, além de quebrar as asas do Falcão. Eventualmente, eles vencem.


Para Walker, esse é o começo do fim. Depois disso, ele é destituído do título de Capitão América pelo senado americano, o que dá à Contessa Valentina Allegra de Fontaine, interpretada pela vencedora do Emmy, Julia Louis-Dreyfus, a chance de abordá-lo. Ela é a grande personagem surpresa do episódio. Nos quadrinhos, Contessa é uma espiã letal com vários nomes, inclusive o de Madame Hydra, enquanto no MCU ela deve servir como uma espécie de Nick Fury do mal, construindo sua própria equipe do mal. Veremos ela novamente em Viúva Negra, em julho.


Mas o coração do episódio é Sam e Bucky. Depois de recuperar o escudo (e deixar as asas com o Joaquin Torres de Danny Ramirez, que deve mesmo assumir o manto de Falcão como nas HQs), a dupla percebe que Karli (Erin Kellyman) e os Apátridas sumiram do mapa, o dando aos protagonistas a chance de parar um pouco, e à série a oportunidade de voltar a focar neles como personagens, algo que o ritmo acelerado do enredo nos capítulos após a estreia impediu.


Cada um tem uma conversa importante antes de se reunirem. Bucky vai visitar o memorial de Sokovia, onde encontra com Zemo (Daniel Brühl). O Soldado Invernal parece finalmente ter perdido o medo do seu passado e mostra isso ao vilão quando tem a oportunidade de matá-lo, mas escolhe não fazê-lo. Stan não tem recebido tantas oportunidades de ficar no centro da história quanto sua co-estrela, então momentos como esse são preciosos. Eventualmente, ele entrega Zemo à Dora Milaje de Wakanda em troca de um último favor. Algo para ajudar Sam...


Falando nele, Wilson vai atrás de Isaiah Bradley (Carl Lumbly) para entender mais do legado do projeto que gerou o Capitão América, seu escudo e a fórmula do super soldado. Bradley salvou outros soldados com versões instáveis do soro quando o exército americano queria matá-los, e em troca dos seus atos heroicos, foi jogado numa prisão por 30 anos e se tornou rato de laboratório na tentativa de recriar o programa.


Diante disso tudo, não podemos dizer que ele está errado, e Sam reconhece isso. Bradley está certíssimo ao dizer que os Estados Unidos nunca irão deixar um homem negro ser o Capitão América. Obama já foi presidente, e apenas ano passado vimos George Floyd ser assassinado na rua com uma autoridade branca em cima de seu corpo imóvel, imagem que é recriada aqui quando Walker quebra as asas do Falcão. Não adianta achar que uma figura, sozinha, é capaz de apagar a história. Mas talvez ela seja capaz de criar algo novo.


É por isso que a decisão precisa vir de Sam. Após passar um tempo ajudando Sarah (Adepero Oduye) a consertar o barco da família - contando também com a participação de Bucky e de toda a comunidade - ele começa a considerar seus próximos passos. As cenas entre Sam e Bucky em Louisiana são, talvez, algo que a série devia ter trazido antes. Há humor, mas também há realidade. Barnes reconhece o erro de não ver o peso de entregar o escudo a um negro, e Wilson finalmente usa seu histórico de ajudar soldados com stress pós-traumático para aconselhar seu amigo.


É um clichê da jornada do herói. O retorno para casa. Mas às vezes, clichês funcionam por uma razão. A pausa na ação significa que agora não há uma missão os movendo de lugar para lugar e a história é, então, movida pelas suas personalidades, motivações e medos. Quando Sam finalmente começa a treinar com o escudo, quando vemos seus sobrinhos olhando para aquele símbolo e seu tio não com o desgosto de Isaiah, mas com admiração e espanto, é que entendemos.


Sam Wilson se recusa a desistir. Ele concorda com Isaiah, mas também tem suas convicções. Dessa vez não foi o governo que escolheu o Capitão América, nem Steve Rogers que entregou o escudo. Sam assumiu o manto por conta própria, algo com um peso e importância enormes depois da jornada pela qual ele passou na série até aqui. Roteiros comandados por suas figuras sempre são os mais eficazes, e por isso "Verdade" se destaca como o ponto alto de Falcão e o Soldado Invernal até aqui. É a decisão mais importante da vida do Falcão. Ou, devo dizer, do Capitão América.

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

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