Falcão e o Soldado Invernal - Episódio 2: Crítica do Chippu

Falcão e o Soldado Invernal - Episódio 2: Crítica do Chippu

"O Herói Americano" deixa alguns temas de lado para enfatizar o enredo no qual os personagens se encontram

Guilherme Jacobs
26 de março de 2021 - 9 min leitura
Crítica

O primeiro episódio de Falcão e o Soldado Invernal apresentou muitas promessas e potencial. Houve mais ênfase nos personagens e em seus dramas pessoais do que o esperado, enquanto a produção manteve o nível de ação e efeitos esperados de um longa-metragem do Marvel Studios. Mas se os elementos de "parece um filme" foram pontos positivos da memorável estreia, eles estão entre os maiores problemas do segundo capítulo, "O Herói Americano."


Não entenda errado. A série ainda está caminhando muito bem e entrega tudo esperado no sentido de entretenimento, mas o episódio 2 tem muita cara de "na verdade isso é um filme de seis horas." Não há o sentimento de ter uma história que se conclui dentro dele, é difícil identificar os temas e o desenvolvimento de personagens cede espaço ao avançar do enredo. Se a estreia mostrou onde Falcão e o Soldado Invernal poderia brilhar, agora vemos onde ela pode cair.


A ênfase do episódio está na chegada de John Walker (Wyatt Russell) como o novo Capitão América. É vê-lo com o estudo fazendo uma turnê pelos EUA como uma arma publicitária do governo e forças militares dos EUA que junta Bucky (Sebastian Stan) e Sam (Anthony Mackie) novamente. O Soldado Invernal questiona repetidamente o Falcão sobre a decisão de entregar o escudo de Steve Rogers e como ele está negando a responsabilidade e chamado que recebeu no final de Vingadores: Ultimato.


Isso cria uma tensão inesperada entre os personagens principais. Vendo os trailers da série e conhecendo o timing cómico que Mackie e Stan possuem à frente e por trás das câmeras, era de se esperar que o relacionamento deles fosse quase inteiramente de piadas. O que vemos é diferente. Sim, há muita tiração com a cara do outro, mas o humor vem com pretextos bem mais pesados, seja o passado sangrento de Bucky ou a aparente covardia de Sam. Por conta disso, algumas falas se tornam mais constrangedoras do que engraças. Em momentos que você esperaria rir, provavelmente fará a cara de alguém que ouviu os pais brigando. Isso é, em parte, intencional, mas ainda há um clima estranho quando um dos heróis solta uma gracinha logo após uma grande discussão.


Acima disso, entretanto, o fato de Sam e Bucky não estarem ignorando as situações e erros que ambos cometeram mesmo em meio à brincadeiras torna a amizade deles mais interessante. Há um potencial para crescimento aqui. Ferro afia ferro. E quando a seriedade é deixada de lado, eles mostram ser uma dupla com enorme poderio cômico.


Como mencionado, Walker é o que junta os dois heróis novamente. Ele ainda não apresentou nenhum comportamento malvado e o começo de "O Herói Americano" mostra o interesse da série em seu passado, motivações e pensamentos. Ao que tudo indica, a Marvel tentará desenvolver o personagem de uma maneira maior do que "Capitão América, mas mal", o que é um ótimo sinal. Russell, por mais que tenha sido fonte de memes ao longo da última semana, faz um bom trabalho atuando como uma figura íntegra que esconde algum tipo de escuridão por trás dos seus olhos. Walker não tem superpoderes e é "apenas" um soldado extremamente bem treinado, o único a receber três medalhas de honra e alguém coom capacidades físicas no limite do ser humano.


Ele, também, anda com uma pistola. É interessante notar que Bucky está fazendo uma decisão consciente de não matar mais pessoas, algo que ele menciona no episódio, e isso é representado na ótima cena de ação que vemos nos primeiros 20 minutos. Aqui, ele não usa armas. É um caminho novo para o Soldado Invernal, o Vingador que sempre carregou um rifle, e acaba até afetando a luta. Parece que a série ainda não sabe usar as habilidades de Barnes como fez com o Falcão na estreia. Mas o novo Capitão América não tem medo de disparar tiros, algo que faz ao tentar derrotar um dos Apátridas, reforçando a ideia de que ele é a mão do governo e forças militares dos EUA, e um dos seus dedos está no gatilho.


Um dos dois grandes temas levantados pelo episódio é justamente esse. Política. Os Apátridas querem derrubar os governos modernos e voltar ao mundo com menos fronteiras criado nos cinco anos em que metade da população havia desaparecido. Eles acreditam que é injusto focar em quem voltou e "esquecer" os que haviam ficado. Karli (Erin Kellyman), sua líder, declara que os mesmos comandantes mundiais corruptos que estavam à frente dos países antes do Blip são as pessoas comandando o retorno à normalidade. O grupo rebelde claramente acredita em sua causa. Suas motivações e inspirações ainda não foram muito trabalhados, mas acredito que isso mudará em breve.


Parte desses comandantes é quem está por trás de John Walker. Falcão e o Soldado Invernal quer reforçar o significado do Capitão América ao apresentar alguém diferente adotando o mesmo nome. Como duas pessoas usadas pelo governo americano para "simbolizar" o país podem representar valores diferentes? A arma é uma indicação disso. Resta ver como a série questionará mais esse ponto. No momento, as razões de Bucky e Sam para não gostar do novo Capitão são puramente pessoais. Ele não é Steve. Daqui pra frente, a dupla (e o seriado) precisa mostrar isso mais no sentido de caráter.


O outro tema que surge aqui é o do racismo. Sam está cada vez mais mostrando que a cor de sua pele é parte de quem ele é. Em um determinado momento, Bucky o apresenta a Isaiah Bradley (Carl Lumbly). Nos quadrinhos, ele foi o primeiro Capitão América negro, aqui ele é um super soldado usado pelos EUA para caçar o Soldado Invernal nos anos 50 e depois abandonado numa prisão na qual foi experimentado e estudado por décadas. Bradley não foi tratado como Walker, mesmo sendo mais poderoso que o novo Capitão. Ele representa a disposição da nação a usar pessoas, particularmente negras, e deixá-las para trás. Logo depois, a dupla entra numa discussão que termina quando a polícia chega e pergunta a Bucky, um homem branco, se Sam, um homem negro, está o incomodando. O tratamento é claramente diferente.


Mas por hora, Falcão e o Soldado Invernal está mantendo o tema do racismo mais no contexto do que no texto da série em ti. Ele não foi discutido de verdade, e se Sam deve assumir de volta o escudo, isso precisa mudar. Como ele não se transformará num novo Isaiah Bradley? Como ele quebrará a roda? A Marvel, por enquanto, está levantando várias questões interessantes, mas a resposta delas foi deixada de lado neste episódio em favor da narrativa maior. Espero que nos próximos capítulos, eles tenham a coragem de enfrentar esses problemas cara a cara.

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

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