Druk - Mais uma Rodada - Crítica do Chippu

Druk - Mais uma Rodada - Crítica do Chippu

O favorito a melhor filme internacional do Oscar merece todos os prêmios que conquistar

Guilherme Jacobs
15 de março de 2021 - 6 min leitura
Crítica

Thomas Vinterberg e Mads Mikkelsen foram responsáveis por um dos melhores filmes da década passada. A Caça, de 2012, é uma das experiências mais inesquecíveis que tive com a arte, um sentimento particular de ter descoberto uma pérola só porque eu gostava do ator. De entrar numa história e num tipo de cinema dos quais eu não tinha conhecimento e passar por uma jornada das mais pesadas e marcantes que o meio ofereceu. Druk - Mais Uma Rodada, é o contrário disso em quase todos os sentidos.


Certamente é em questão de expectativa. Assim que descobri que o filme era a primeira colaboração de Vinterberg e Mikkelsen (Casino Royale, Hannibal) desde A Caça, a espera se tornou insuportável. A experiência também é outra. Enquanto seu primeiro trabalho juntos foi uma daquelas coisas que faz você querer abraçar um cachorrinho depois, Druk é uma experiência dinâmica e explosiva. Onde as duas obras se encontram, todavia, é que ambas são de primeiríssima qualidade.


Druk segue a história de quatro homens sofrendo crises de meia idade e resolvendo voltarem ao álcool como uma escapatória. Martin (Mikkelsen), Tommy (Thomas Bo Larsen), Nikolaj (Magnus Millang) e Peter (Lars Ranthe) vivem vidas boas, com esposas, empregos e amigos, mas sofrem de uma apatia gigante. Deles, Martin é o que está na pior. Com apenas 19 minutos de filme, ele sofre o tipo de pânico emocional que produções hollywoodianas normalmente reservam para o momento de claridade no terceiro ato, e expressa seus sentimentos e vulnerabilidades de maneira muito humana. Ele sente que parou no tempo, que não há mais nada. Ele sente que falhou.


Uma das decisões mais importantes que Vinterberg faz aqui é não atribuir a crise de Martin a algo específico. Seu casamento não está nas melhores, mas ele e sua esposa estão longe de viver em brigas. Seu emprego como professor de ensino médio não é dos melhores, mas é suficiente para sustentar dois filhos. Martin simplesmente não se sente vivo. É comum pessoas que passam por temporadas de depressão (ou enfrentam a doença diariamente) não saibam descrever exatamente o que está faltando, apenas que algo está errado. E então elas buscam respostas.


Essa fórmula pode parecer batida. Você já deve ter visto filmes assim onde a resposta era sexo, drogas, arte, traição, etc. Mas não se espante se a premissa faz você dar um passo pra trás achando que essa é mais uma daquelas histórias. Vinterberg disse que Druk é, em parte, uma celebração do álcool. Isso fica claro rapidamente. Os primeiros dias do quarteto com a bebida são promissores. Eles estão mais divertidos. Mais alertas. Vivos.


Parte do que torna assistir a Druk algo tão fácil de digerir é isso. Seus personagens se divertem sem perder completamente a responsabilidade. O experimento dá certo. Martin conquista sua sala toda. Tommy inspira seu time de futebol infantil. Peter redescobre a música e Nikolaj sente que está descobrindo algo importante. Vê-los se sentindo vivo é, inegavelmente, como passar uma noite com seus amigos. Mas por se tratar de álcool, as coisas não podem ficar assim pra sempre.


Durante todo esse tempo em Druk, enquanto a diversão fica palpável, uma escuridão começa a surgir por trás dos seus olhos. A ideia de buscar na bebida a resposta para a vida é uma bomba relógio. A garrafa é uma cisterna rota. Gradualmente, o grupo bebe mais.. Suas situações profissionais e familiares degradam e Vinterberg mostra a maturidade de lidar com isso tudo. As consequências de passar do limite. De brincar com veneno.


Falar sobre o final desse filme é um crime. Quanto menos você souber melhor. Na verdade acho que até já falei o suficiente, mas para concluir é preciso dizer que o desastre eventualmente bate na porta desses amigos. Simultaneamente, uma segunda chance surge para Martin, e isso traz uma escolha. De um lado está o álcool, do outro está, talvez, a resposta para sua crise. O possível verdadeiro desejo por trás da bebedeira. A sensação que ele quer reconquistar.


A conclusão de Druk é uma explosão lúdica cujo último frame vai deixar a audiência na dúvida. Sim, há alegria lá. Seja lá a escolha ou razões de Martin para tanto gozo, ele parece satisfeito. Mas como Vinterberg mostrou durante duas horas, nem sempre o combustível da alegria é algo saudável. Martin vai voar ou cair? Nunca saberemos, mas já vimos o suficiente.


Druk - Mais Uma Rodada estreia nos cinemas em 25 de março.

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

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