
Cavaleiro da Lua: O Tipo Amigável - Crítica do Chippu
Deixando de lado seu personagem mais interessante e trazendo sequências de ação horríveis, série entrega seu pior episódio

Crítica
Em seus primeiros episódios, Cavaleiro da Lua se destacou por firmar o drama e mistério em volta de seu personagem principal. Mais especificamente, em volta de Steven (Oscar Isaac). Agora, com Marc no comando (também Isaac) e um olhar mais voltado para explicar a mitologia (egípcia, neste novo lado do universo Marvel) a série perdeu muito do equilíbrio mostrado nas duas primeiras horas e entregou seu pior capítulo até aqui, reforçando problemas anteriores como o visual e a execução de cenas de ação, mas também tropeçando em si mesmo com um roteiro mais expositivo, escrito por Beau DeMayo, Patrick Cameron e Sabir Pirzada.
Depois de uma abertura que nos deu um pouquinho de gosto das cenas gravadas presencialmente no deserto, enquanto vimos Arthur Harrow (Ethan Hawke) encontrando o local da tumba de Ammit, Cavaleiro da Lua reverteu para seus piores vícios com uma sequência de luta e perseguição envolvendo Marc e seguidores da seita repleta de, novamente, tela verde mal aplicada e direção confusa. Para um estúdio com os recursos da Marvel, é indesculpável filmar algo simples como um embate num telhado de maneira tão artificial e mal executada, com cortes à torta e direita e nenhum senso de movimento ou peso.
A segunda grande sequência de ação do episódio, a primeira na qual o Cavaleiro da Lua enfrenta humanos, resulta em algo melhor do que os embates contra criaturas CG (ou invisíveis), mas ainda falha em entregar o sentimento de dinâmica, velocidade, agilidade e, francamente, heroísmo da Marvel. Compare essa cena com a luta entre o Falcão, Soldado Invernal e Agente Americano. São personagens com poderes semelhantes - força e velocidade um pouco elevada, mas nada de magia ou raios cósmicos - mas o trabalho feito em Marc Spector fica muito abaixo do padrão estabelecido nas outras produções do estúdio. Talvez seja o uso de efeitos especiais na roupa e na capa, mas a direção com poucos ângulos abertos - talvez uma tentativa de esconder a coreografia - e movimentos de câmera estranha são os prováveis culpados.
O maior problema deste capítulo, porém, está na progressão desesperadamente acelerada do roteiro, apresentando conceitos e personagens na tentativa de encher linguiça e justificar a duração da série. Layla (May Calamawy) permanece maltratada pelo roteiro, desperdiçando o potencial da atriz com cenas sem peso dramático ou importância narrativa. O trabalho feito para construir Steven e torná-lo interessante não existe no “lado Marc,” e ela é a maior vítima disso. Na viagem feita por ela e Marc ao território de Anton (Gaspard Ulliel), mais uma figura sem propósito na narrativa, ganhamos alguns vislumbres do passado dela, mas ainda é muito pouco. Semelhantemente, tudo envolvendo as divindades egípcias é confuso.
Na cena na qual os deuses se reúnem, eles julgam tanto Khonshu (F. Murray Abraham) quanto Harrow. As divindades são poderosas o suficiente para mover os céus e causar eclipses, mas aparentemente não conseguem detectar uma escavação em seu próprio deserto? Depois, eles prendem Khonshu porque ele, apesar de lembrar perfeitamente uma noite há 2 mil anos, prefere mexer nos cosmos do que mostrar para Steven e Layla? Já vimos a entidade controlar o corpo do protagonista antes. Por que não fazer de novo, e, sei lá, desenhar?
Cavaleiro da Lua encontra sucesso ao focar sua lente no protagonista e aproveitar a ótima atuação de Isaac, que aqui novamente se mostra como a melhor parte da série, dando a Marc mais profundidade do que o roteiro consegue e, numa cena espetacular na qual ele troca de personalidades, praticamente mudando sua aparência de maneira instantânea. Esse episódio foi a primeira tentativa da série de expandir o escopo (temos nossa primeira menção ao resto do MCU com Madripoor) e, seja por falta de cuidado no detalhamento da mitologia ou pela inserção de mais personagens sem desenvolver os já existentes - ainda estou esperando aproveitarem o ótimo ator que é Ethan Hawke. Por hora, seu trabalho aqui é aguado.
Dobramos a esquina da metade de Cavaleiro da Lua. Talvez, quando a obra estiver completa, vejamos esse terceiro episódio como um mal necessário para avançar o roteiro e abrir o leque mitológico da série. Por hora, porém, ele parece ter sido apenas mais uma chance de admirarmos a atuação de Isaac e nada mais.

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