Andor foca no custo emocional de uma rebelião em sétimo episódio introspectivo - Crítica com Spoilers

Andor foca no custo emocional de uma rebelião em sétimo episódio introspectivo - Crítica com Spoilers

Com "O anúncio," série de Star Wars aumenta os riscos do jogo contra o Império e coloca Cassian Andor contra a parede

Guilherme Jacobs
19 de outubro de 2022 - 9 min leitura
Crítica

As duas temporadas de Andor, segundo o criador Tony Gilroy, serão divididas em quatro arcos de três episódios. Isso significa que "O anúncio," sétimo capítulo da série de Star Wars no Disney+, marca o começo de uma nova fase na história. Não só chegamos ao início de mais um bloco narrativo, como cruzamos a metade deste ano inicial e, portanto, vamos expandir a escala e os interesses do enredo novamente e alcançar um momento maior dentro da construção da Rebelião.

Se esse crescimento veio através de planetas quando trocamos Ferrix por Aldahni e Coruscant no quarto episódio, agora ele acontece de maneira mais complexa e íntima. É preciso analisar o custo emocional de se rebelar contra o Império. Duas coisas forçam esse acerto de contas pessoal para Cassian (Diego Luna), Maarva (Fiona Shaw), Mon Mothma (Genevieve O'Reilly) e até para os oficiais do BSI como Dedra Meero (Denise Gough), enfim dona do ouvido do Major Partagaz (Anton Lesser) e em controle da investigação pelos roubos dos chamados "terroristas" no lugar do Tenente Blevin (Ben Bailey Smith).

O primeiro destes fatores inescapáveis é a reação ao ataque à base imperial em Aldahni, que deixou para trás Cinta (Varada Sethu), vista brevemente em "O anúncio" observando a chegada de um grande Star Destroyer ao planeta. Junto com a visão de Stormtroopers pelas ruas de Ferrix e corredores de Coruscant, e as múltiplas menções ao invisível mas sempre presente Imperador Palpatine, o momento serve para inaugurar um novo período na era entre os Episódios III e IV de Star Wars. Doravante, o Império está prestando atenção. Se antes os rebeldes não tinham muito espaço para erros, agora até seus acertos podem custar vidas.

A segunda ficha a cair é fruto desta primeira. Se o punho do fascismo ficou mais cerrado, então um posicionamento será demandado de todos indispostos a seguir fielmente suas regras de opressão. Na verdade, até as pessoas já investidas na causa serão testadas. Luthen (Stellan Skarsgard) e Kleya (Elizabeth Dulau) deixam isso claro quando apresentam testes para ambas Mothma e Vel (Faye Marsay) em Coruscant. Luthen explica para a senadora, uma aliada ainda mais contida e cautelosa, que a hora da violência é chegada e os riscos para todos os envolvidos precisam aumentar, baseando-se no pesado mas inegável argumento de que quanto mais o Império fizer o povo sofrer, mais eles desejarão liberdade. Já Kleya coloca Vel na missão de encontrar e matar Cassian. Se ele não deseja fazer parte dessa revolução, então não pode ser uma ponta solta.

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Essas circunstâncias, então, colocam Mothma e Cassian no centro da premissa do episódio. Para a senadora, isso significa encontrar uma maneira de voltar a acessar a fortuna de sua família, riqueza da qual ela foi misteriosamente cortada (certamente descobrirmos mais em breve), e ela encontra a resposta no velho amigo Tay Kolma (Ben Miles). No diálogo, ele hesita não por querer evitar ameaças, mas porque acredita que ela não aceitará a extremidade de suas políticas anti-Império. É fácil interpretar a cena como algo cômico. Este zé ninguém não sabe com quem está falando. Mas a conversa vai além e sugere que, talvez, o disfarce de Mon Mothma seja bom demais e, como Luthen deixou claro, será necessário tomar atitudes incrementalmente drásticas.

Para Cassian, porém, o debate é mais explícito. Com créditos suficientes para pagar suas dívidas e ir para onde quiser, ele retorna a Ferrix para reencontros importantes com ambas Marva e Bix (Arja Ardona), cujas reações à chegada intensa do Império em seu planeta são diametricamente opostas. Depois de descobrir da traição e morte de Timm, Cassian vai até Bix, pulando os muros de sua casa pela primeira vez desde a época na qual namoravam, e descobre sua amiga ainda cicatrizada e, de certa forma, o culpando pelos acontecimentos. Ela não parece responsabilizá-lo pelas perdas, como fazem os outros cidadãos locais, mas não oferece muitas simpatias. O falecimento de Timm e a ocupação quebraram, por hora, seu espírito. Não restou motivação.

Do outro lado está Maarva, interpretada com reverência, furor, paixão e imponência pela espetacular Fiona Shaw. Já idosa e cansada, ela tem todas as desculpas possíveis para não querer lutar, e até entende o impulso de Cassian de fugir com o dinheiro e buscar paz. A veterana, porém, sabe como funcionam as coisas. Ela sabe que nenhum paraíso está a salvo das garras do Lado Sombrio, e eventualmente tudo será arruinado pelo toque letal destes dedos frios e calculistas. Tudo menos sua mente. Sua determinação, sua alma, sua consciência. Essas são as coisas além do alcance dos inimigos. Correr, então, não faz sentido. A sua escolha é lutar, é revidar à altura, é pegar o rifle da mesa e colocar a vida na linha. A ditadura demanda dela, e ela responderá. Maarva pode não saber seu papel, não desequilibrar o balanço do poder, e nem ser uma força intimidadora. Mas ela está ali.

Cassian, não. Ele decide fugir para Niamos, cujas supostas praias e coqueiros paradisíacos são tudo menos isso. Desprovido de charme, o ambiente tem uma cara genérica, como aqueles resorts exagerados cuja presença remove a cultura e carisma natural dos pontos turísticos pré-existentes. A profecia de Maarva se cumpre rapidamente, e a paz e bronze do protagonista são interrompidos pelo Império quando ele é preso por estar no lugar errado, na hora errada. A sequência oferece o primeiro exemplo de Andor talvez exibindo uma certa ansiedade.

Tanto o roteiro de Stephen Schiff quanto a direção de Benjamin Caron aceleram um pouco ritmo e deixam de lado a sutileza, e Cassian é rapidamente julgado e sentenciado a seis anos na cadeia. As ideias apresentadas em Niamos são boas, mas a decisão da série de agilizar o fim das férias de Cassian para provar o ponto de Maarva e nos mostrar as consequências disso num espaço de tempo tão comprimido destoam da abordagem mais controlada e precisa vista até então, particularmente num episódio que, antes dessa conclusão, estava mais interessado em mudanças introspectivas, não circunstanciais.

Mas se Cassian está indo para uma prisão, então Syril (Kyle Soller) já está lá. Graças à sua mãe Eedy (a sempre deliciosamente perversa Kathryn Hunter) e os pauzinhos mexidos pelo tal Tio Harlo, ele vai trabalhar num dos centenas de cubículos no escritório de "padrões" do Império, ajudando a garantir que coisas como combustíveis estejam de acordo com o regulamento. Ele ainda se mostra furioso com Cassian, mas o momento levanta uma pergunta interessante. Qual destes homens presos parece mais motivado a acabar com o status quo?

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

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