Andor encerra arco da prisão com episódio esplêndido e sacríficos brutais - Crítica Com Spoilers

Andor encerra arco da prisão com episódio esplêndido e sacríficos brutais - Crítica Com Spoilers

"Só uma saída," décimo episódio da série de Star Wars, eleva Andor para outro nível com fuga de prisão arrepiante

Guilherme Jacobs
9 de novembro de 2022 - 9 min leitura
Crítica

Quem não ama fugas de prisão? Depois de encerrar sua primeira metade com uma espetacular história de roubo, Andor resolveu trazer para Star Wars outro “gênero” particularmente fácil de amar dentro de narrativas de suspense. Liderados por Cassian (Diego Luna) e Kino (Andy Serkis), os homens encarcerados numa das prisões de segurança máxima em Narkina 5 provocam uma rebelião e lutam, a todo custo, por sua liberdade em “Só uma saída”, uma das horas mais esplêndidas e inspiradoras da série de Tony Gilroy até aqui.

Quando começarmos a falar da fuga, não haverá espaço para nada mais, então é sábio comentar primeiro sobre os personagens em Coruscant, onde Luthen (Stellan Skarsgard) e Mon Mothma (Genevieve O’Reilly) enfrentam, essencialmente, o mesmo dilema. Cada um precisa decidir o quanto está disposto a sacrificar. Até onde eles irão para fora da zona de conforto em nome da causa rebelde? Do voto feito? O quanto é demais? As respostas, por enquanto, são diferentes. Para a mulher, a conversa com o mafioso Davo Sculdun (RichardDillane) oferece o maior desafio até aqui, e justamente porque, para sua surpresa, o pagamento pelos serviços dele — um empréstimo que permitirá a Mon acessar a fortuna da família e burlar os regulamentos do Império — não é algo político ou monetário. Ele quer simplesmente apresentar seu filho adolescente à Leida (Bronte Carmichael), filha da senadora.

A demanda é instantaneamente rejeitada, mas como o próprio bandido diz, não há convicção nas palavras dela. Afinal, qual o outro caminho? A situação precária na casa dos Mothma tem sido uma maneira de Andor aprofundar a personagem de O’Reilly e revelar problemas presentes em seu cotidiano com pouca, ou até nenhuma, relação ao enredo principal do surgimento da rebelião. O que torna a história de Gilroy, aqui auxiliada pelo roteiro perfeitamente estruturado de Beau Willimon é justamente a maneira com a qual ela está juntando esses mundos, e cruzando as linhas narrativas para intensificar o drama. Mon Mothma sabe o quão longe ela está da filha. Davo nega estar orquestrando um noivado, mas suas intenções são claras. E se a garota se sentir num casamento forçado? E se o filho for tão asqueroso quanto o pai? E se ela se apaixonar verdadeiramente, e depois quebrar o coração? Todas essas possibilidades estão na mesa.

A questão, então, é até onde Mon Mothma está disposta a ir com isso. Ela tem sido, até aqui, a figura com mais aversão a risco entre os rebeldes, muito por ser quem tem mais a perder. Luthen, todavia, não pode dizer o mesmo. Ele é convocado para um encontro secreto com uma fonte infiltrada no BSI, e o até então coadjuvante Lonni (Robert Emms), colega de Deedra (Denise Gough), se revela como espião. Como Mon Mothma, ele agora tem uma família e, consequentemente, muito a perder caso seja descoberto. Graças ao plano de Dedra para destruir a célula rebelde de Anto Kreegyr, se vê numa encruzilhada, e apresenta o problema para Luthen. Se Luthen informar o grupo e impedir o ataque surpresa, ficará claro que há um traidor no Império. Se não, pelo menos 50 pessoas irão morrer.

O encontro entre os dois, primeiro numa conversa via rádio dirigida de maneira claustrofóbica por Toby Haynes e depois com um face a face em meio às sombras, em mais um ambiente imediatamente icônico graças ao design de produção ímpar de Luke Hull, é o momento mais arrepiante num episódio com várias opções dignas deste título. Skarsgard detona no discurso de Luthen, que ao ser questionado por Lonni sobre seus sacrifícios, deixa claro o quanto ele já se perdeu na luta para destruir o Império. Ele está disposto a jogar sujo. Ele está disposto a vender sua alma. A prova disso é sua disposição para sacrificar a vida de Kreegyr e de seus homens em nome de manter sua fonte dentro do BSI segura, ainda que Lonni queira parar o trabalho de informante. Ele é valioso demais.

Sacrifícios não são fáceis. Pergunte aos prisioneiros de Narkina 5. Quantos morreram em sua escapatória? Valeu a pena? A maioria vai dizer, sem dúvidas, que sim. Afinal, é melhor morrer lutando do que morrer entregando o que o Império quer.

Cassian e Kino são o coração do episódio. Imediatamente após descobrirem a mentira da liberdade após a sentença, a dupla revela para seus colegas de andar sobre a execução dos homens de outro setor e a necessidade de fugir. Primeiro, o personagem de Diego Luna tenta motivá-los, mas recebe uma mistura de apoio e rejeição. Com Kino, a história é outra. Apresentado primeiro como um valentão sem piedade e depois aprofundado pelo roteiro de Willimon e pela atuação genuína de Serkis, o gerente da sala de construção é o líder absoluto destes homens, e quando ele finalmente quebra o silêncio e encontra determinação para fugir, Andor atinge um ponto sem retorno. Todos vão segui-lo. A janela de oportunidade é minúscula, e para o plano dar certo é preciso aproveitar a chegada do prisioneiro que irá substituir o falecido Ulaf (Christopher Fairbank), quando os guardas usam o elevador e se deixam minimamente vulneráveis.

Depois de alguns minutos de planejamento, o episódio inicia a sequência de ação. Apesar de não ter o mesmo impacto visual do roubo de Aldahni, a trilha sonora quase espiritual de Nicholas Britell e as atuações de Serkis, Luna e seus coadjuvantes (vale citá-los: Brian Bovell, Clemens Schick, Tom Reed, Josef Davies, Duncan Pow) pintam a cena com uma textura emocional perceptível. Por ser a série que é, Andor pode matar qualquer um destes homens a qualquer hora, e nosso desejo, mesmo não os conhecendo tanto, é o oposto.

A tensão inicial se transforma em inspiração. Não há outra palavra. Depois de assumirem o posto de controle e libertarem outros andares, Cassian e Kino decidem motivar os outros prisioneiros a fugir, cientes de que não há nada que os guardas possam fazer para impedir 5 mil homens de saírem de lá. Kino, novamente, precisa ser a voz da rebelião, e impulsionado por Cassian profere um discurso emocionante. Era o último dominó. Passeamos pelos corredores de Narkina 5 e vemos prisioneiros tomando de volta seu direito de viver, e fascistas acovardados, se escondendo no escuro da multidão furiosa. A reta final envolve nadar pelos oceanos do planeta, e aí vem o baque. Kino não sabe nadar.

O personagem de Serkis fica na plataforma enquanto Cassian é derrubado nas ondas. Depois, o vemos saindo e continuando a fugir. Não vemos se Kino morreu ou foi preso novamente, mas conhecendo Andor, não seria surpresa se nunca mais o vermos. Ele cumpriu seu papel. Mais um sacrifício.

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

0h 0min
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