Andor constrói episódio mais eletrizante até aqui com sexto capítulo cheio de suspense - Crítica do Chippu

Andor constrói episódio mais eletrizante até aqui com sexto capítulo cheio de suspense - Crítica do Chippu

No novo episódio de Andor, Star Wars nos lembra do alto preço necessário para conquistar o impossível

Guilherme Jacobs
12 de outubro de 2022 - 8 min leitura
Crítica

Como você se sentiu no fim de "O Olho", sexto episódio da primeira temporada de Andor? Triunfante como Luthen (Stellan Skarsgard) ao saber da vitória dos Rebeldes em Aldhani, ou desolado como Vel (Faye Marsay), deixada sozinha após a morte de praticamente toda a sua equipe? De fato, a missão de roubar o equivalente a um semestre inteiro de salários de uma guarnição do Império foi um sucesso, culminando com a fuga eletrizante durante a chuva de meteoros celebradas pelos poucos nativos ainda dispostos a manter a tradição, e o corte para Coruscant no final do capítulo mostra o grande impacto desse feito nos senadores e oficiais. Mas o quanto podemos descrever os acontecimentos dessa semana no seriado de Star Wars como uma vitória?

Tal mistura agridoce é mais do que adequada para esse tipo de história. Ela é necessária. Rebeliões são assim. Resistência não é algo fácil, e conquistas muitas vezes são pagas em vidas e sangue, como vimos durante o ataque à base imperial em Aldhani. Na verdade, essa combinação de ganhos e perdas será tema da vida de Cassian Andor (Diego Luna) até seus últimos momentos em Rogue One: Uma História Star Wars. Sabemos como o filme terminou. Mas pior que as mortes de Gorn (Sule Rimi), Skeen (Ebon Moss-Bachrach), Tamaryn (Gershwyn Eustache Jnr) e Karis (Alex Lawther) é a sensação de que pouco foi realizado em termos de construir uma aliança rebelde forte e motivada. Com exceção de Vel e Cintha (Varada Sethu), deixada para trás em Aldhani, todos os outros personagens realmente motivados pela causa foram mortos, e alguns deles, na verdade, nem estavam lá pelas razões mais nobres.

Todos, contudo, estavam lá, e executaram a missão. "O Olho" constrói cautelosamente o palco para o roubo, plantando figuras imperiais instantaneamente memoráveis e detestáveis enquanto o povo de Aldhani se aproxima do templo sagrado para a cerimônia de assistir à chuva de meteoros. A fala do Comandante Jayhold (Stanley Townsend) sobre como manipular o povo local revela as táticas detestáveis do Império e só são comparáveis em crueldade à forma com a qual trata sua esposa e filho, cujos olhos cheios de lágrimas em meio ao sequestro executado por Vel, Cassian e companhia nos lembram da área cinzenta ainda presente nessa luta de bem contra o mal. Nessas horas, porém, basta olhar para o comportamento racista e elitista dos fascistas em relação aos oprimidos, e a simpatia logo acaba. Eles estão fartos e satisfeitos. E quem paga por isso, se não os homens e mulheres de Aldhani?

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Quando o roubo realmente começa, Andor deixa claro a importância dos equipamentos antigos usados por Karis, o mais motivado do grupo e a verdadeira consciência moral da série até aqui, mas também não esconde o quão frágil esse plano é. Boa parte da estratégia envolve simplesmente apontar armas para os inimigos e gritar ordens. Não há muita contingência. A direção de Susanna White abraça essa instabilidade e junto com a montagem precisa de Dan Roberts e John Gilroy cria uma tensão palpável. Tudo pode dar errado a qualquer momento. Por isso, quando a transmissão no rádio deles é interceptada, não demora muito para lasers começarem a voar de um lado para o outro e improvisos se tornarem necessários. Em meio à troca de tiros, Gorn e Tamaryn morrem. Andor revela ter uma opinião levemente mais positiva da habilidade de mira do Império (mas para ser justo, não havia nenhum Stormtrooper ali).

Por pouco, Cassian, Vel, Skeen e Karis conseguem escapar, decolando numa sequência de fuga banhada nas luzes da chuva de meteoro formando o titular Olho nos céus de Aldhani. Sabemos, claro, que Cassian escapará vivo, e por tabela, todos que estão da nave também. Por isso, Tony Gilroy deve ter insistindo na presença dos visuais mais arrebatadores de toda a série até aqui. De fato, é um espetáculo. Como uma aurora boreal em chamas, o céu se torna uma mistura viva de verdes, azuis e brancos letais, e só a navegação precisa de Karis aliada à destreza de Cassian pilotando podem salvar os rebeldes dos Tie-Fighters os perseguindo. Eles conseguem.

Mas, novamente, toda conquista tem um preço. Karis é paralisado das pernas para baixo ao ser esmagado por uma pilha de créditos imperiais. A imagem do dinheiro esmagando o jovem não é acidental, particularmente ao se tratar do mais devoto de todos os personagens. Alguém com fé em lutar não só com armas, mas também com palavras. Para piorar, o sangramento interno pode custar sua vida, então uma rápida parada num médico se torna necessária. A tentativa é vã, e Karis morre. O garoto deixa seus escritos com Cassian, e quem sabe esses pensamentos ajudem a converter, de uma vez por todas, o protagonista.

A maneira com a qual o roteiro de Dan Gilroy desenvolveu cada figura dessa célula rebelde foi tanto econômica quanto eficaz. As perguntas deixadas na semana passada — a determinação fria de Cinta, o conhecimento imperial de Tamaryn — foram respondidas durante a execução da missão de forma natural e orgânica, com os acontecimentos facilitando e até chamando a exposição. Ela teve toda a sua família massacrada por Stormtrooper. Ele era um Stormtrooper. Mas quando achávamos ter finalmente entendido cada membro da equipe, uma reviravolta se apresenta. Skeen quer fugir com o dinheiro roubado, e oferece a Cassian a chance de ir com ele e dividir o lucro.

Cassian responde matando Skeen imediatamente após ouvir a proposta. Não é hora de arriscar. Ao descobrir que a história do irmão, da fazenda e da vingança era mentira, Cassian decide que não pode confiar em ninguém ali, deixa o cristal kyber para trás como uma mensagem de desistência para Luthen, pega seus créditos prometidos e abandona Vel com o cadáver de Karis. Ao fim da missão, então, há mortos, abandonados, traidores, mártires e mercenários. Qual foi a vitória?

Luthen ainda ri. Ao descobrir a conclusão do ataque, o espião se deixa ter um momento privado de êxtase enquanto finalmente deixamos a célula rebelde de lado para uma rápida visita a Coruscant. Mas é difícil escapar do clima fúnebre. Quando souber do destino de cada "herói", ele conseguirá manter o riso?

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

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