
Andor quebra as próprias regras e traz transformações em novo episódio - Crítica com Spoilers
Tudo muda em capítulo com grandes revelações para a trama e o elenco

Crítica
A primeira temporada de Andor é dividida em arcos de três episódios, e olhando para “Ninguém Tá Escutando”, nono capítulo desta leva inicial de 12, pode parecer que Tony Gilroy e sua equipe tenham quebrado a regra. Cassian (Diego Luna) ainda está na prisão de Narkina 5, Mon Mothma (Genevieve O’Reilly) ainda não conseguiu acessar a fortuna de sua família, Syril (Kyle Soller) continua sem moral com o Império e Dedra (Denise Gough) ainda não descobriu o paradeiro do protagonista. Mas, como a última cena deixa claro, há, sim, uma conclusão. Encerra-se aqui o bloco da narrativa de Cassian inativo. Ele precisa agir. Mas além disso, a série de Star Wars terminou um período de preparação, e colocou diversos personagens em movimento.
Para Cassian, o momento do reconhecimento vem após semanas* na prisão. Quando o vimos no capítulo passado, o rebelde estava quebrado, com olhar robótico e operando calado dentro do sistema industrial do Império. Só uma engrenagem na máquina. Agora, ele está mudando. Através de conversas com outros prisioneiros, como seus colegas de mesa e sala, Andor está começando a sonhar com uma fuga e se preparar para tal ao danificar um cano aqui, plantar uma coisa ali, e coletar informações acolá. Novamente, a direção de Toby Haynes, o roteiro de Beau Willimon e o design de produção de primeira de Luke Hull transformam Narkina 5 numa sociedade à parte. Linguagens de sinais ajudam prisioneiros a se comunicar com outros blocos, mas pode demorar dias para conseguir transmitir uma só palavra entre os tubos submergidos da instalação, o que torna o compartilhamento de informações profundamente difícil para os encarcerados. É por design, claro. O Império quer deixá-los isolados. Então, quando rumores de uma execução em massa começam a se espalhar, é como uma faísca atingindo a gasolina. O fogo começa.
Longe de Narkina 5, Mon Mothma, aqui revelada como prima de Vel (Faye Marsay), tenta protestar contra a legislação responsável por dar ao Império o poder de revisar sentenças quando bem entenderem, e é recebida não com vários gritos de apoio (há alguns e vaias (há alguns), mas principalmente indiferença, enquanto outros políticos deixam o senado, desinteressados em tentar debater. As tentativas da senadora parecem cada vez mais em vão. É como Vel diz. Ela está encaixotada. Enquanto isso, forças inimigas como as lideradas por Dedra Meero (Denise Gough, particularmente intimidadora neste episódio) continuam avançando, e aqui a oficial da BSI não só quebra Bix (Adria Arjona) através de tortura, como também recebe a oportunidade de atacar uma célula rebelde — liderada por Maya Pei, uma das rebeldes mencionadas por Luthen (Stellan Skarsgard) semana passada — e se aproxima de ambos Cassian e Luthen.
Talvez seja essa a razão de Mon Mothma para aceitar se encontrar com um criminoso rico e tentar burlar as leis do Império para conseguir o orçamento necessário para financiar mais operações dos rebeldes. Com sorte, essa decisão movimentará um pouco o núcleo da personagem. Apesar de estar frequentemente no centro de algumas das cenas mais bem-escritas da série como um todo, a senadora vivida por O’Reilly não avançou muito em termos narrativos. Pouco mudou em relação à sua vida caseira, e ainda menos quanto à causa. Agora, porém, ela parece estar sem respostas. Ao longo da primeira temporada, a cautela de Mon Mothma, talvez melhor descrita como uma aversão a riscos, tem lhe limitado quando o assunto é ajudar a rebelião a lutar, e para que isso mude ela precisará sair de vez da zona de conforto.
Parafraseando Luthen no episódio passado: quanto mais o Império oprime, mais o povo vai querer responder.
É justamente o excesso de opressão (como se qualquer opressão já não o fosse) que pode custar ao Império pelo menos uma das prisões em Narkina 5. Cassian passa o episódio inteiro tentando descobrir quantos guardas estão em cada andar, mas seu líder de sala Kino (Andy Serkis) se recusa repetidas vezes a compartilhar a informação, ainda que não discorde de Cassian quanto à falta de interesse dos oficiais de ouvirem o que eles estão conversando. Talvez Cassian esteja certo. Talvez não tenha ninguém monitorando. Mas com menos de um ano faltando na sentença, por que Kino arriscaria? Ele acredita na saída. Apresentando inicialmente como intolerante, a figura interpretada por Serkis com sua típica mistura de carisma e implacabilidade começa a mostrar outros lados aqui. Ele demonstra cuidado com o idoso Ulaf (Christopher Fairbank), que está a menos de um mês de sair de lá. Kino pode ser ingênuo em acreditar no sistema imperial, mas ele não vê outra saída, e se for necessário seguir as regras para sair, assim ele o fará.
Então, Ulaf morre. Ao sofrer um infarto fulminante, algo além dos recursos médicos precários (sem dúvida intencionalmente) do local, o idoso não consegue resistir, e o socorrista descreve sua morte como a única saída possível. Cassian e Kino o questionam, e a verdade vem à tona. Os boatos são verdadeiros. 100 homens foram eletrocutados e morreram instantaneamente. Tudo por um erro dos oficiais. A execução em massa aconteceu porque os prisioneiros reconheceram um integrante novo em sua sala como um homem que tinha acabado de cumprir sua pena em uma sala vizinha, e então a mentira de que é só trabalhar direitinho para sair de lá foi exposta. Para conter o vazamento, todos foram fritados. Não há saída.
A opressão, então, é demais. Cassian novamente pergunta a Kino, cujo olhar de fúria é perceptível, e ele revela a quantidade de guardas em cada andar. Agora, não há razão para continuar tentando. A única saída é rebelião.

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