
A Casa do Dragão prepara reta final da 2ª temporada em sexto episódio significante
Prequel de Game of Thrones mais uma vez se beneficia da compressão de menos episódios

Crítica
Uma das maiores tentações para um crítico é gastar tempo falando como algo deveria ter sido feito. Nosso trabalho não é especular, mas sim analisar e discutir o que foi posto em tela, levantando méritos e problema não com base no hipotético, mas no que está diante de nós. Tendo dito isso, caro leitor, depois de ver o bom sexto episódio da segunda temporada de A Casa do Dragão, eu irei quebrar essa regra. Peço perdão desde já.
Digo isso porque, vendo como a série segue se beneficiando do ritmo mais acelerado de uma temporada com menos capítulos, não consigo escapar do pensamento que A Casa do Dragão seria bem mais servida de, digamos, três temporadas de cinco ou seis episódios, focados mais intensamente em “Fogo e Sangue” e nos outros escritos de George R. R. Martin que servem de base para a guerra civil Targaryen. Estes materiais parecem muito mais apropriados para o tiro curto do que para uma maratona paciente, diferente dos livros que a HBO transformou em Game of Thrones.
Assim como aconteceu no já memorável “O Dragão Vermelho e o Dourado”, este episódio — com as tramas políticas em King’s Landing, o início da Semeadura e Daemon (Matt Smith) finalmente saindo da inércia em Harrenhaal… bom, mais ou menos — mostra que Ryan Condal e seu time de roteiristas e diretores fazem um trabalho muito melhor de adaptar os principais acontecimentos da obra de Martin do que em preencher as lacunas entre esses momentos. Como falo desde a primeira crítica da temporada, mesmo que a série não tenha roteiros no nível que precisa, há um benefício inerente à encenação do progresso da narrativa.
Este, no caso, é a sensação de que há sempre algo novo em tela. Alguns problemas continuam. Os diálogos, francamente, não são suficientemente afiados*, e alguns personagens parecem incapazes de escapar à incerteza (este é o sexto capítulo seguido de Rhaenyra, sempre bem interpretada por Emma D’Arcy, reclamando da falta de respeito de seu conselho e não fazendo praticamente nada para mudar isso) ou do que parece ser burrice (Olivia Cooke segue salvando Alicent, totalmente escanteada pela série, de ser totalmente rebaixada de suposta co-protagonista para coadjuvante esquecível**). Mas é mais fácil ser perdoado por isso quando sua história aparenta estar andando a passos cada vez mais largos.
*Eu daria tudo para alguém soltar uma frase tão memorável quanto “I drink and I know things” ou “What do we say to death? Not today” nessa série.
**Preciso elogiar a direção de Andrij Parekh e a fotografia de Vanja Cernul, que é ótima em todo o episódio, e que no plano da silhueta de Alicent presa entre duas colunas falam tudo sobre a situação da personagem sem precisar de palavras. É mais do que o roteiro tem feito por uma mulher que, no marketing para a temporada, foi posicionada como tão importante quanto Rhaenrya.
Vemos isso, neste episódio, com Aemond (Ewan Mitchell) tentando consolidar o poder em King’s Landing ao descobrir que seu irmão Aegon II (Tom Glynn-Carney) voltou à consciência, e ordenando o retorno de Otto Hightower (será um prazer ter Rhys Ifans de volta) para o posto de Mão de Rei, assim frustrando o ardiloso Larys Strong (Matthew Needham). Em sua frustração, este vai até o rei falar sobre a vida de alguém fisicamente deformado, e derrama lágrimas que eu, honestamente, não sei se foram genuínas ou não. É maravilhoso ter essa dúvida.
Essa ambiguidade vem de Needham, um dos melhores atores da série, e também porque o status quo mudou. Mudanças deixam as pessoas desconfortáveis, vulneráveis e expostas. Basta olhar para Rhaenyra, que busca conselhos (e eventualmente algo mais) nos braços de Mysaria (Sonoya Mizuno, outra que figura no topo do elenco em termos de talento) depois que sua tentativa de encontrar um novo montador para Fumaresia* falha, e termina na morte de um de seus cavaleiros.
*Era melhor ter deixado o nome em inglês: Seasmoke.
Fumaresia parece ganhar um novo montador ao fim do episódio, o que deve alegrar os ânimos da filha de Viserys, que ressurge nesse episódio nos sonhos de Daemon. Para além de nos dar o prazer de rever Paddy Considine atuando, o sonho com o falecido irmão deixa o personagem de Matt Smith no seu limite, e quando ele parece pronto para fugir e Harrenhaal, as profecias misteriosas (mas verdadeiras, como prova a morte de Oscar Tully) de Alys Rivers (Gayle Rankin) se provam suficiente para mantê-lo lá, e mais importante, para oferecer um caminho a seguir. Daemon está rodando em círculos nessa temporada, como tantos outros, e tem sido frustrante ver alguém talentoso como Smith preso no lugar.
Se Daemon despertar, quer volte a se aliar com Rhaenyra ou ao mínimo se mostre um inimigo a ser considerado para os Verdes (um confronto entre ele e Aemond é questão de tempo, sugere o episódio), e o novo montador de Fumaresia, que o episódio esconde para criar um gancho desnecessário mas certamente será Addam de Casco (Clinton Liberty), se provar talentoso na condução do dragão, então a maré vai começar a virar para os Pretos. Assim, A Casa do Dragão monta o cenário para os últimos dois episódios da temporada, que novamente devem se beneficiar da compressão. Mais coisas em menos tempo. Essa é a receita do sucesso para essa série.

Você pode gostar
O Brutalista: Épico de Brady Corbet flutua entre majestoso e frustrante
Leia nossa crítica do longa de Brady Corbet com Adrien Brody

Venom: A Última Rodada fecha a trilogia com um ensaio de comoção
Terceiro filme ainda aposta no escracho mas com exagerada timidez

Irmãos é comédia sem inspiração e um desperdício do talento de Josh Brolin e Peter Dinklage
Max Barbakow passa longe do sucesso de Palm Springs

Canina é o bom filme que Amy Adams buscava há anos, mas derrapa nas mil e uma explicações
Comédia dramática utiliza imagem da atriz sem medo do ridículo
